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China rebate críticas do Ocidente e diz que sua indústria é mais competitiva

Publicado 11.04.2024, 11:38
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Por Kevin Yao e Joe Cash e Ellen Zhang

PEQUIM (Reuters) - O último dia da viagem da Secretária de Estado dos Estados Unidos, Janet Yellen, à China coincidiu com a mais forte resposta das autoridades de Pequim sobre acusações norte-americanas de que o país asiático está inundando os mercados globais com produtos baratos, especialmente nos chamados "setores verdes".

Yellen lançou planos para formalizar o diálogo com a China sobre o que considera como excesso de capacidade industrial do país em veículos elétricos, painéis solares e baterias, afirmando que Washington não aceitará que o setor industrial dos EUA seja "dizimado". Mas o Ministério das Finanças da China emitiu uma declaração afirmando que já havia "respondido plenamente" às preocupações do governo norte-americano.

O ministro do Comércio da China, Wang Wentao, em uma mesa redonda com fabricantes chineses de veículos elétricos em Paris na segunda-feira, disse que as afirmações dos EUA e da Europa sobre o suposto excesso de capacidade são infundadas, acrescentando que o crescimento da China nesses setores foi impulsionado pela inovação e por sistemas completos de cadeia de suprimentos, entre outros fatores.

A resposta mais recente da China, segundo analistas, está centrada na ideia de que seu sistema de produção é simplesmente mais competitivo, o que representa uma mudança brusca de tom em relação a apenas um mês atrás, quando as autoridades, incluindo o primeiro-ministro, Li Qiang, fizeram suas próprias advertências sobre excesso de capacidade.

A forte reação de Pequim contrasta com as interações calorosas entre Yellen e as autoridades chinesas durante a viagem, deixando as duas maiores economias ainda mais distantes no comércio global, o que pode aumentar tensões.

"Eles não podem vencer a corrida, então tentam desacelerá-la", disse Li Yong, pesquisador-chefe da D&C Think, um think tank chinês, referindo-se à retórica do Ocidente que segue insistindo na tese sobre excesso de capacidade do país.

"Nós apenas fazemos nossas coisas, eles podem fazer o que quiserem - a faca está nas mãos deles."

Ambos os lados acreditam que têm argumentos sólidos e apoiados em dados para não recuar.

A principal crítica vinda principalmente de Washington e Bruxelas é que o apoio estatal aos fabricantes chineses, juntamente com a demanda doméstica deprimida, está empurrando a oferta chinesa para os mercados globais, o que pressiona os preços dos produtos.

Por sua vez, a China afirma que o excesso de capacidade industrial não é exclusivo da segunda maior economia do mundo.

"O chamado 'excesso de capacidade' é uma manifestação do mecanismo de mercado em funcionamento, em que o desequilíbrio entre oferta e demanda é geralmente a norma", disse o vice-ministro das finanças, Liao Min, à mídia local.

"Isso pode ocorrer em qualquer sistema de economia de mercado, inclusive nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, onde já aconteceu várias vezes na história."

A utilização da capacidade industrial na China é menor do que nos Estados Unidos ou na Europa, mas não muito.

Além disso, a China afirma que a oferta e a demanda devem ser vistas de uma perspectiva global, principalmente porque as críticas ocidentais se concentram em setores essenciais para as metas climáticas de todo o planeta. Esse argumento tem ressonância.

"Sou muito cético em relação a essa ideia de excesso de capacidade", disse Nicholas Lardy, membro sênior do Peterson Institute, em um fórum financeiro em Hong Kong.

"Se você pensar bem, isso significa que cada país deve produzir apenas o que ele mesmo consome. Isso significa que não há comércio. Onde estaríamos se não houvesse comércio?"

Não se trata de um debate novo. Há mais de uma década, Washington reclama que suas indústrias são prejudicadas pelo o que chama de superprodução chinesa de aço.

Mas a China pode argumentar que sua produção está mais em sintonia com a demanda global do que naquela época. Os níveis de estoque da China aumentaram durante os anos atingidos pela Covid, mas permanecem bem abaixo dos níveis observados na década de 2010.

A China considera os "três novos" setores de veículos elétricos, baterias e energia solar como fundamentais para seu desenvolvimento.

Em 2023, as exportações dos "três novos" totalizaram 1,06 trilhão de iuans (146,6 bilhões de dólares), um aumento de 29,9% em relação ao ano anterior, segundo dados oficiais. No entanto, elas representaram apenas 4,5% do total das exportações da China denominadas em iuans no ano passado, de modo que aqueles que estão do lado de Pequim no debate consideram hipócrita o foco do Ocidente sobre elas.

"Os EUA e a Europa têm uma lógica um pouco de gangsters", disse Wang Jun, economista-chefe da Huatai Asset Management.

No setor automotivo, a China argumenta que o excesso de capacidade está concentrado em carros com motor a combustão, e não em veículos elétricos, e diz que os mecanismos de mercado acabarão por eliminar os participantes mais fracos.

Além disso, alguns modelos da BYD (SZ:002594), fabricante chinesa de veículos elétricos, são vendidos na Alemanha por mais do que o dobro do preço na China - um argumento que os críticos usam contra as preocupações da Europa sobre preços injustos.

A China também afirma que muitas de suas empresas são mais inovadoras e, portanto, mais competitivas. O país pode apontar o fato de ter ultrapassado os EUA como líder mundial em pedidos de patentes.

No entanto, um setor em que a demanda global não acompanha a produção chinesa é o de energia solar.

Xuyang Dong, analista de políticas energéticas da China na Climate Energy Finance em Sydney, estima que a capacidade de wafers, células e módulos da China que entrará em operação em 2024 é suficiente para atender à demanda global anual até 2032.

"Se pensarmos sob essa perspectiva, o governo chinês está subsidiando toda a transição verde do mundo", disse Yue Su, principal economista da China na Economist Intelligence Unit. "Se isso é justo para os fabricantes ou trabalhadores da UE é uma outra questão."

"Dito isso, mesmo que o Ocidente aumente as tarifas, ainda prevejo que a China dominará muitos desses setores."

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