BRUXELAS (Reuters) - A Comissão Europeia disse nesta terça-feira que continua a buscar um acordo comercial com o Mercosul, um dia depois de o gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, ter dito que entendia que a União Europeia havia encerrado as negociações.
“As discussões continuam e a União Europeia continua a cumprir a meta de alcançar um acordo que respeite os objetivos de sustentabilidade e respeite as nossas sensibilidades, particularmente na agricultura”, disse um porta-voz da Comissão.
Na véspera, fontes europeias e brasileiras que acompanham as conversas, afirmaram à Reuters que as negociações entre o Mercosul e a UE foram retomadas na semana passada e devem seguir pelos próximos meses apesar da resistência da França.
O porta-voz da Comissão disse que Macron e a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, estiveram em contato, mas recusou-se a comentar as discussões.
Um conselheiro presidencial francês disse na segunda-feira que a UE entendia que era impossível chegar a um acordo nas condições atuais.
O porta-voz da Comissão afirmou ainda nesta terça-feira que o vice-presidente do órgão executivo da UE, Valdis Dombrovskis, que supervisiona assuntos de comércio, está pronto para viajar para a América Latina se for possível chegar a um acordo.
“Mas com base nas últimas reuniões que tivemos, esse não parece ser o caso neste momento”, disse o porta-voz.
A União Europeia e Mercosul chegaram a acordo sobre um texto de acordo comercial em 2019, após 20 anos de negociações intermitentes. Vários outros membros da UE apoiam o acordo.
A França tem manifestado repetidamente reservas sobre o acordo UE-Mercosul e afirma que seus agricultores se opõem a importações de alimentos da América do Sul, notadamente carne bovina, que afirma não cumprirem com regras da UE.
Em dezembro, quando as negociações se encaminhavam para serem fechadas, Macron se manifestou publicamente contra o acordo, classificando-o de "antiquado" e dizendo que "não era bom para ninguém."
Segundo as fontes brasileiras, as negociações continuarão nos próximos dias para resolver questões pendentes, especialmente do lado brasileiro. O novo governo argentino já declarou que não tem problemas com as negociações e não pretende fazer novas exigências, mas o Brasil aponta duas questões que ainda precisam ser tratadas.
Uma delas é o cronograma para redução de tarifas de importação para carros elétricos. A outra, mais complexa, é um sistema de conciliação para resposta à lei antidesmatamento aprovada pela União Europeia.
O Brasil quer a criação de um instrumento de conciliação no caso da UE invocar a lei e suspender importações de produtos agrícolas acertadas no acordo, assim como o direito de reduzir as cotas europeias se tiver suas exportações cortadas.
(Por Philip Blenkinsop, com reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília)