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Demanda na China é obstáculo ao rali do algodão nos EUA

Publicado 18.08.2022, 15:35
© Reuters. Plantação de algodão no Brasil. REUTERS/Ricardo Moraes
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Por Ashitha Shivaprasad e Kavya Guduru e Marcelo Teixeira

(Reuters) - Uma seca severa e uma onda de calor no Texas devastaram a safra de algodão nos Estados Unidos, o maior exportador mundial, estimulando uma alta vertiginosa nos futuros da commodity nas últimas semanas.

Mas o arrefecimento da demanda por roupas à medida que a produção das fábricas na China diminui e os temores de uma recessão global podem em breve moderar os preços do algodão, disseram analistas e traders.

O contrato de algodão do segundo vencimento, para dezembro, mais ativo na ICE frequentemente atingiu seu limite de alta, levando a vários aumentos no ponto máximo de movimento diário. Na semana passada, os preços registraram sua melhor semana em mais de uma década.

A maior parte desse rali, disseram analistas, foi desencadeada por preocupações com o impacto sobre as colheitas ante o calor extremo e a seca, especialmente no Estado de maior produção, o Texas.

Reforçando essas preocupações, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) cortou no início deste mês sua previsão para a produção norte-americana para o ano comercial de 2022/23 em 3 milhões de fardos, para 12,57 milhões de fardos.

John Robinson, professor e especialista em extensão para marketing de algodão na Texas A&M University, destacou uma taxa de abandono de 43% para o algodão dos EUA divulgada pelo USDA -- a pior de todos os tempos.

Os agricultores às vezes optam por abandonar as lavouras danificadas pelo clima extremo em vez de investir tempo e dinheiro na tentativa de colhê-las.

"Perdemos 95% da safra, basicamente não temos mais nada, talvez cerca de 60 acres que possamos colher", disse Brent Coker, um agricultor de algodão em Lamb County, Texas.

Ao mesmo tempo, o USDA também reduziu suas perspectivas de consumo global de algodão em 800.000 fardos.

"A oferta será o principal tópico da conversa, mas há questões sérias em torno da demanda que também são importantes", disse Jordan Lea, trader sênior da DECA Global.

O rali pode continuar, mas logo diminuirá, acrescentou Lea.

Em contraste com o aumento de quase 7% nos preços do algodão neste trimestre, o milho caiu cerca de 2%, enquanto os preços da soja baixaram cerca de 4% com a melhora do clima em parte do Meio-Oeste.

Para agravar as preocupações com o crescimento global, estava a desaceleração da produção industrial na China, um dos principais consumidores de algodão dos EUA.

"O tamanho da safra (está) caindo... mas e o lado da demanda da equação? A China foi abalada por sua economia --uma força oposta que seria de baixa", disse Sid Love, analista de commodities do Kansas.

Como os produtores dos EUA provavelmente não aumentarão a produção até o próximo ano, os importadores podem se voltar para outros lugares, disseram analistas.

As projeções apertadas de estoque dos EUA podem dar mais espaço ao Brasil para aumentar sua participação nas exportações mundiais caso o consumo aumente, disse a consultoria de agronegócios AgRural em nota.

© Reuters. Plantação de algodão no Brasil. REUTERS/Ricardo Moraes

"Tanto o Brasil quanto a Austrália estão atualmente em posição de tirar proveito da situação infeliz nos Estados Unidos", com a África Ocidental provavelmente também se beneficiando, disse Matthew Looney, cientista de dados do International Cotton Advisory Committee.

Os EUA são os maiores exportadores globais em 2022/23 apesar da redução na safra norte-americana, com exportações estimadas em 12 milhões de fardos pelo USDA, enquanto o Brasil deve embarcar 9,3 milhões de fardos.

(Por Ashitha Shivaprasad e Kavya Guduru em Bangalore e Marcelo Teixeira em Nova York; reportagem adicional de Arpan Varghese e Nigel Hunt)

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