Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – A passagem de ano traz, além das festas e quitutes natalinos, despesas a mais no bolso. Gastos com festas e presentes, renegociação de contratos e impostos, por exemplo. Por isso, o Investing.com Brasil conversou com especialistas que trouxeram dicas para finalizar este ano e começar o próximo com o planejamento financeiro em dia.
Os gastos são mais elevados, mas os trabalhadores formais também recebem o décimo terceiro nesta época, como lembra Daiane Mohr, planejadora financeira CFP e especialista de investimentos na Warren.
Com dinheiro a mais na conta disponível para compras de fim de ano, o momento é de definir valores e ser consciente. A planejadora orienta ter uma lista de prioridades, estabelecendo para quem quer comprar presentes e com que valores – que estejam dentro da realidade de cada orçamento. “Cuide para não comprar mais do que você pode e parcelar, porque, no geral, no início do ano, a gente tem sempre contas mais pesadas, como material escolar, pagamento de impostos que vem no início do ano. Então, essa conta vai chegar”, alerta. Assim, a especialista orienta dividir os valores de adicional de férias e décimo terceiro para o pagamento dessas despesas que devem ser mais altas, evitando endividamento elevado com parcelamentos, cartão de crédito e cheque especial.
No entanto, diferente do servidor público ou trabalhador CLT que possui uma estabilidade financeira maior, quem atua como pessoa jurídica possui menos previsibilidade a respeito das suas entradas. “As orientações são as mesmas, porém, para o autônomo, é ainda mais importante ter uma reserva de emergência para cobrir os meses em que as entradas podem ser inferiores as saídas. O exercício de planilhar, de forma mensal, as receitas e despesas do PJ, por exemplo, é ainda mais interessante, pois é possível mapear, quanto na média, em 12 meses essa pessoa fez de entradas e saídas”, completa Malu Sprícigo, comercial e sócia da SPM Investimentos.
Entre os principais erros que podem comprometer as contas no ano seguinte está esquecer extras como IPVA, IPTU, viagens, troca de carro e reformas na casa, completa Sprícigo. “Esquecer essas despesas faz com que muitas vezes o brasileiro precise recorrer a empréstimos bancários, e nesse momento em que temos uma Selic na casa dos 13,75% e com previsão de ficar nos 2 dígitos para o próximo ano, acaba sendo bastante cara a contratação de crédito”, avalia.
Amigo/inimigo secreto: Quais ações os analistas dariam de presente?
Caminhos para sair do endividamento
Para quem está endividado ou até inadimplente, a orientação da especialista de investimentos na Warren é utilizar os valores extras recebidos para o pagamento de dívidas, evitando juros muito elevados, como do cartão de crédito e cheque especial. “Procure a o seu gerente do banco, sua pessoa de confiança, faça troca por créditos mais baratos. Normalmente, crédito pessoal, crédito consignado e crédito com garantia real tem taxas mais baratas. Não deixe o cheque especial ali rodando, porque isso vai ficando cada vez mais alto, é a tão conhecida bola de neve”.
Mohr indica dividir os gastos previstos em percentuais, definindo a parcela para custos fixos e variáveis. A sugestão da especialista é utilizar 50% para custos mensais recorrentes, 30% para extras/supérfluos e 20% para reserva de emergência/investimentos. Para readequar o orçamento, não é preciso cortar os desejos abruptamente, para evitar uma recorrência do problema depois. A orientação é fazer ajustes, conversar com a família e manter todos informados sobre o ocorrido e o planejamento para resolver a situação.
Vai ter reajuste? “O não, você já tem”. Barganhe
Segundo Spricigo, a melhor estratégia para barganhar na revisão de possíveis ajustes é ter dinheiro em mãos. “Quando temos um valor em mãos conseguimos negociar alguns possíveis ajustes. Para aluguel, por exemplo, tendo um contrato, pode ser interessante negociar com o proprietário pagar antecipado 6 meses por exemplo, desde que o ajuste não seja aplicado ou seja aplicado somente parte dele”, reforça.
Essa barganha é possível quando há reserva de emergência já montada, sendo também possível utilizar parte do décimo terceiro para poder negociar esses possíveis ajustes. Outro ponto destacado por Spricigo é entender qual seria esse possível desconto e comparar com o quanto as aplicações financeiras estão rentabilizando, para ver se compensaria pagar algo de forma antecipada ou não.
Definição de metas para 2023
A época de final do ano também é um momento de realizar uma reflexão, analisando a trajetória passada e quais os objetos de desejo para o próximo ano. Mohr orienta que é importante que tudo isso seja colocado em um papel, desejos, sonhos e uma estratégia para a realização, indicando o montante projetado, seja para a troca de carro, viagem ou compra de um imóvel. Com um valor em mente, vale a pena sugerir uma divisão de aportes mensais e ir “se pagando” aos poucos.
Mesmo com essa visão de curto prazo, é preciso lembrar também da independência financeira e aposentadoria. “Faça planos de acordo com a sua capacidade de realizar. Isso não quer dizer que você não possa sonhar grande, mas saiba quais são os tamanhos dos seus sonhos e se eles cabem no seu orçamento. Assim, você pode apreciar sua jornada e realizar sonhos, mesmo que menores. Foque nos planos e sonhos do curto e médio prazo, do tamanho da sua capacidade, do seu orçamento”, completa a especialista da Warren.
Para Sprícigo, outro erro comum é não olhar o passado. É importante analisar como foi o comportamento de entradas e saídas no ano anterior para que possa se basear no planejamento financeiro para 2023. “Ter uma referência de como foram as finanças no ano anterior auxilia na construção de um orçamento para o ano seguinte. É imprescindível analisar os extratos de cartões de crédito e contas correntes de no mínimo os últimos 3 meses para ter uma referência de como, na média, o padrão de vida se comportou”.
Assim, é possível detalhar quanto foi gasto com casa, transporte, lazer, educação, entre outros. Como sugestão da especialista, vale colocar os extratos em uma planilha, que pode proporcionar mais clareza sobre a situação financeira atual.
Outro erro bastante comum, mas daqueles que já possuem um valor para imprevistos (a famosa reserva de emergência) é deixar o dinheiro parado na própria conta corrente sem remuneração, perdendo poder de compra por conta da inflação. “Por isso, é importante deixar esse dinheiro trabalhando para nós, para que a gente consiga garantir o poder de compra. Para reserva de emergência, a sugestão não é obter ganhos, e sim, proteger o nosso capital da inflação. Alternativas como fundos DI, CDBs com liquidez diária e Tesouro Selic são boas opções para estar alocado”, completa a sócia da SPM Investimentos.