Por Lisandra Paraguassu e Brian Ellsworth
BRASÍLIA (Reuters) - O novo governo brasileiro dificilmente participará de uma nova missão militar no Haiti, apesar dos chamados para formação de uma força internacional para tentar controlar a ação de gangues violentas no país, afirmaram duas pessoas ligadas ao gabinete de transição.
"Acho muito difícil uma participação brasileira, sobretudo em uma força multinacional, que não seria das Nações Unidas", disse à Reuters o ex-chanceler Celso Amorim, hoje conselheiro do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
No mês passado, a ONU debateu o envio de uma força especial para reabrir um terminal de combustíveis que teve o acesso bloqueado por quadrilhas. Este mês, a polícia conseguiu recuperar o controle do terminal e a distribuição de combustíveis no país foi retomada, tirando a urgência da ação, mas sequestros continuam aumentando e as gangues que operam no país têm expandido suas áreas de atuação.
O Brasil liderou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) de 2004 a 2017 - nos governos de Lula, Dilma Rousseff, até deixar o país durante o mandato de Michel Temer. Amorim lembra que a missão, que consumiu recursos e o trabalho de milhares de militares brasileiros, gerou desgaste interno e hoje a situação no país está pior do que quando o Brasil deixou a missão.
"Nós ficamos muito decepcionados. Nós fizemos um enorme esforço, que nos trouxe muito desgaste interno, inclusive. Nós deu muito trabalho, tivemos muito empenho, colocamos 40 milhões de dólares lá, e tudo se perdeu", disse o embaixador. "Não vimos engajamento da comunidade internacional. Nós temos muito carinho pelo Haiti, mas não dependia só de nós."
Amorim destaca ainda que uma nova missão teria ainda mais oposição interna e que a situação no Haiti é muito mais complexa, envolve não apenas segurança, mas desenvolvimento.
"Nós fizemos um esforço para mostrar isso, mas não houve nenhum esforço nisso na parte de outros países", afirmou.
De acordo com uma fonte ligada ao novo governo brasileiro, houve sondagens informais do governo norte-americano, através da embaixada no Brasil, sobre a possibilidade de uma nova participação em uma missão, no caso da eleição de Lula. A resposta foi a mesma: seria muito difícil.
"A questão hoje não é mais uma força de estabilização. Hoje é uma questão de polícia", disse a fonte, que pediu anonimato por se tratar de questões de diplomacia internacional.
O atual governo não fez qualquer comentário sobre uma possível participação do Brasil em novas missões no Haiti. De acordo com uma fonte diplomática, não houve sondagens ao atual governo.
O Itamaraty não respondeu imediatamente ao pedido de comentário feito pela Reuters.
O Departamento de Estado Norte-americano também não respondeu ao ser questionado se havia buscado apoio do Brasil para uma missão no Haiti.
A escassez de combustível causada pelo bloqueio do terminal, na metade de setembro, abalou ainda mais a economia haitiana, forçando empresas, lojas e hospitais a fecharem as portas.
Durante uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas em outubro, os Estados Unidos e o México propuseram a formação de uma força multinacional rápida para reabrir o terminal, mas não revelaram quais países fariam parte da operação.