O Brasil precisa investir R$ 456 bilhões anualmente por pelo menos 7 anos para retomar o auge da indústria de transformação, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os dados são de uma pesquisa inédita sobre o segmento, que chegou a atingir o menor valor de investimento em 20 anos e é um dos setores mais estratégicos para a economia.
Para a instituição, a atual conjuntura econômica do país atrapalha os investimentos no setor. A porcentagem do PIB (Produto Interno Bruto) destinada para aumentar a produção é de cerca de 2,6% e vem caindo ao longo dos últimos anos. Para a Fiesp, a taxa não é suficiente e não chega sequer a cobrir gastos como depreciação de ativos. Eis a íntegra da pesquisa (PDF – 1,1 MB).
O levantamento utilizou dados disponíveis na última PIA (Pesquisa Industrial Anual), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2021. As estatísticas mostram que os investimentos atingiram o menor valor dos últimos 20 anos e que a tendência é continuar encolhendo em relação ao total injetado na economia. Na década de 2000, a indústria de transformação recebia 20,9% do total investido no país, enquanto em 2021 a participação chegou a 12,9%.
Para o segmento retomar o patamar mais alto já atingido –como o da década de 1970– a Fiesp estimou, de maneira inédita, que seria necessário investir 4,6% do PIB anualmente, por um período de 7 a 10 anos. Ou seja, R$ 456 bilhões por ano para suprir os gargalos do complexo industrial e retomar a produtividade perdida.
O segmento é considerado estratégico para a economia pelo investimento em pesquisa e tecnologia. Hoje, a maior parcela do dinheiro destinado está concentrado na fabricação de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis, que representam ⅓ dos investimentos dos últimos 4 anos. No entanto, a Fiesp é cautelosa em relação ao destaque dado a esse recorte da indústria.
“Ficar muito vinculado a setores cuja dinâmica de investimento está associada ao comportamento do preço internacional cria uma dependência extrema na estrutura produtiva que afeta, inclusive, excessivamente as receitas, dependendo do ciclo econômico”, diz Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, que coordenou o trabalho.
A pesquisa mostrou ainda que a renovação do estoque capital da indústria é lenta. De 1996 a 2014, o segmento teve um salto mais acelerado nos investimentos, resultando em um estoque de crescimento moderado, com aumento de 1,9% a.a., em média. Porém, no período subsequente (2015-2021), caiu, com variação negativa de cerca de 0,6% ao ano.
Para a Fiesp, a variação acende um sinal de alerta para uma possível perda de competitividade do país e reforça a necessidade do avanço da reforma tributária para melhorar as condições do ambiente de negócios.