O Atlético-MG e o Botafogo, que decidem a Libertadores neste sábado (30.nov.2024) às 17h no Más Monumental, em Buenos Aires, representam dois modelos diferentes de gestão no futebol brasileiro. O confronto opõe uma SAF de capital estrangeiro a uma de investidores locais, com resultados financeiros distintos em 2023.
Enquanto o Atlético-MG registrou superávit de R$ 111 milhões no ano passado, o Botafogo fechou 2023 com déficit de R$ 101 milhões. Levantamento da Sports Value mostra que o clube mineiro superou o carioca em R$ 51 milhões no total de receitas: R$ 439 milhões contra R$ 388 milhões.
Modelos diferentes de SAF
O Botafogo foi um dos pioneiros na adoção do modelo SAF. Em março de 2022, o empresário americano John Textor adquiriu 90% das ações por R$ 400 milhões. O clube registrou faturamento de R$ 570,1 milhões em 2023, um aumento de 258% em relação a 2022, e reduziu em 40% suas dívidas cíveis com o pagamento de R$ 130 milhões.
Já o Atlético-MG transformou-se em clube-empresa em 2023, com aporte inicial de R$ 913 milhões feito pelo grupo 4R’s, formado pelos empresários Rubens e Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães. O clube encerrou 2023 com dívida total de R$ 1,4 bilhão, incluindo o financiamento da Arena MRV (BVMF:MRVE3), mas reduziu 45% das dívidas com juros após pagar R$ 465 milhões em 2024.
“Fica muito claro que o modelo SAF já está bem sucedido. Dois finalistas, com injeção de recursos, chegaram lá gastando menos que Flamengo, Palmeiras, Corinthians e São Paulo. Mas o Botafogo, por exemplo, aumentou muito seus gastos e não cresceu a receita. Quer dizer, ele chegou à final da Libertadores e é um potencial campeão do Brasileirão desse ano e quase foi do ano passado, então ainda que o modelo SAF se mostre muito eficiente gastando menos atingindo mais longe, do outro lado, você tem déficits enormes bancados pelo dono do clube”, analisou Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value.
Investimentos em elenco
O Botafogo intensificou os investimentos após a chegada de Textor. Em 2024, desembolsou R$ 226 milhões apenas nas contratações de Thiago Almada (R$ 120 milhões) e Luiz Henrique (R$ 106 milhões). Outros reforços importantes foram Matheus Martins (R$ 61 milhões), Vitinho (R$ 49 milhões) e Gregore (R$ 13,5 milhões).
O Atlético-MG adotou estratégia mais conservadora desde 2020, investindo cerca de R$ 200 milhões em reforços. Os principais valores foram aplicados em Matías Zaracho (R$ 33,1 milhões), Guilherme Arana (R$ 29,2 milhões) e Fausto Vera (R$ 22,1 milhões). O clube também apostou em atletas sem custos de transferência, como Hulk e Paulinho.
Receitas e custos operacionais
O principal pilar financeiro de ambos os clubes são os direitos de transmissão. O Atlético-MG arrecadou R$ 162 milhões com TV, enquanto o Botafogo obteve R$ 154 milhões. A diferença mais expressiva está na receita com transferências de atletas: R$ 112 milhões para o time mineiro contra R$ 83 milhões do clube carioca.
Em bilheteria, o clube mineiro faturou R$ 85 milhões, R$ 23 milhões a mais que o Botafogo. Nas ações de marketing, a diferença foi de R$ 19 milhões (R$ 63 milhões contra R$ 44 milhões).
Apesar das receitas menores, o Botafogo teve custos mais elevados em 2023. O clube carioca gastou R$ 412 milhões em despesas operacionais, R$ 20 milhões a mais que o Atlético-MG, que registrou R$ 392 milhões.
Retrospecto recente
Os times se enfrentaram pela última vez em 20.nov.2024, em partida que terminou em 0 a 0, com três expulsões – duas do Atlético-MG e uma do Botafogo.
Esta reportagem foi produzida pelos estagiários em jornalismo Janaína Cunha e Victor Boscato sob a supervisão da editora Thaís Ferraz.