Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que a meta fiscal de 2024 não precisa ser zero e que o objetivo dificilmente será alcançado, já que não pretende cortar investimentos para atingi-lo, ressaltando que o mercado muitas vezes cobra o cumprimento de algo que sabe que não será cumprido.
Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, Lula afirmou que entende a disposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas fez uma série de ponderações em relação à meta.
"Nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque não quero fazer cortes em investimentos de obras", afirmou.
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, a gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para este país”, disse.
De acordo com o presidente, um eventual rombo de 0,25% ou 0,50% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 não é “nada, praticamente nada”.
“Muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida”, afirmou. “Nós vamos tomar a decisão correta e vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil.”
Após as falas do presidente, o dólar à vista desacelerou as perdas, enquanto as taxas de alguns contratos futuros de juros aceleraram os ganhos e o Ibovespa renovou as mínimas da sessão.
Sob as regras do novo arcabouço fiscal aprovado em agosto, o governo propôs ao Congresso zerar o rombo fiscal em 2024, meta considerada por economistas ousada e excessivamente dependente de ganhos de arrecadação.
Na manhã desta sexta-feira, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o governo pode fechar 2023 com um déficit primário pior do que o previsto anteriormente após medidas aprovadas no Congresso e fatores econômicos aumentarem pressões sobre as contas, enfatizando que há impacto sobre o próximo ano, apesar de ainda ser cedo para tirar conclusões.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no entanto, vinha mantendo a defesa do déficit zero, mesmo que dentro do governo o objetivo já fosse considerado pouco factível. Setores do governo consideravam que um aperto nesse nível impediria o governo de fazer investimentos considerados essenciais.
Em entrevista à Reuters há uma semana, Haddad havia reiterado que pretendia manter a meta de déficit, apesar de admitir que havia discussão interna.
Lula admitiu que existe uma preocupação com 2024 e com o ambiente econômico que deve vir com dificuldades externas, como redução de crescimento na China e alta dos juros norte-americanos, mas cobrou que o país encontre soluções internas.
“Obviamente que nós sabemos que o ano que vem se apresenta como um ano difícil, por conta da queda do crescimento da China, do aumento da taxa de juros americano, mas eu estava dizendo agora há pouco em uma conversa com o Haddad, a gente quando está no governo, é por isso que inventaram o check-up, é para a gente evitar que a doença se prolifere”, disse Lula. “Não adianta me dizer que o juro americano está alto. Não me interessa, temos que encontrar soluções aqui.”
O presidente afirmou ainda que quer ver o acordo entre Mercosul e União Europeia ser fechado ainda este ano, lembrando que está parado há mais de 22 anos.
“Quero tirar do papel”, disse. “Temos que parar de colocar as responsabilidades uns nos outros e assumir nosso papel.”
(Reportagem adicional de Bernardo Caram e Fabrício de Castro)