Investing.com – Uma sinalização correta do governo que indique uma situação fiscal responsável, o que pode alterar as expectativas, abriria espaço para que os juros caiam, na visão de Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual (BVMF:BPAC11). “No curto prazo, 2023 e 2024, o que vai definir o crescimento do Brasil é a taxa de juros, não é a produtividade”, reforça Almeida, que já foi secretário do Tesouro Nacional.
A análise foi feita no painel “Perspectivas para investimentos: Um panorama do cenário econômico atual”, durante o evento BTG Together, promovido pelo banco BTG.
Expectativa de inflação e juros
Economistas e outros agentes de mercado divergem sobre a possibilidade de cortes de juros ainda em 2023, diante da deterioração das expectativas para os próximos anos. A tendência é de que uma possível revisão das metas do Conselho Monetário Nacional (CMN) seja realizada em junho.
Na avaliação de Bruno Funchal, CEO da Bradesco (BVMF:BBDC4) Asset, que também participou do painel, com o núcleo de inflação comportado, em agosto ou setembro pode começar uma redução nos juros. A trajetória do câmbio e o ciclo de crédito devem impactar nesse cenário.
Durante o evento, Rodrigo Azevedo, Sócio, co-CIO e Gestor Ibiuna, considerou complicado alterar juros em junho, antes da decisão do CMN. O gestor avalia que o Banco Central não está com pressa. “Pelo contrário. A projeção deste ano está acima do que estava há três meses. Com a inflação mais baixa, isso é olhar para o retrovisor, com inflação que esteve muito alta. A inflação, na ótica do Banco Central, está longe de estar controlada”. O BC pode se “dar ao luxo” de não se comprometer, completa Azevedo.
Segundo Mansueto Almeida, sinais dúbios do governo e críticas a reformas importantes e promessas com aumentos de gastos pioraram as expectativas. Por outro lado, o projeto de arcabouço fiscal, ainda que com parâmetros discutíveis, além da defesa de um ajuste fiscal pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), traz um sinal mais claro, com apoio político, o que é visto de forma positiva pelo mercado.
Regra fiscal
Se o governo entregar o plano fiscal anunciado, o cenário de aumento da trajetória da dívida muda, e após a apresentação da nova regra, o momento seria “muito melhor do que a gente esperava no início desse governo”, aponta Almeida.
Funchal, que foi secretário Especial de Fazenda do Ministério da Economia, destaca que a nova regra fiscal possui pontos positivos e alguns desafios. “Dado que há alguma previsibilidade, uma regra que gera uma poupança, que permite fazer trajetória de dívida com comportamento melhor, todos esses são pontos positivos”.
Por outro lado, entre os desafios estão o tratamento das despesas obrigatórias no texto que ainda deve ser enviado do Congresso, do excesso de indexação, e da volatilidade da receita maior do que a despesa.
Além disso, Funchal completa que agendas positivas do governo incluem avanços para a reforma tributária, reduzindo a complexidade do sistema, o que considera ser fundamental para ganhos de produtividade. No entanto, seguem ruídos no cenário micro, como no Marco do Saneamento.
Azevedo concorda que os desafios giram em torno da definição dos parâmetros de trajetória de resultado primário, que pode indicar aumento de carga tributária, além de hipóteses muito ousadas de crescimento mais alto e juros mais baixos. Apesar dos avanços, com redução da incerteza, para que o impacto seja mais duradouro e relevante, é preciso que fique mais claro como os resultados serão atingidos.
Cenário global
Segundo Mansueto Almeida, as mudanças no contexto global tendem a beneficiar o Brasil, que é credor em dólar. “Hoje, quando o dólar sobe, as contas fiscais melhoram. A gente nunca teve esse luxo durante 60 anos pós-segunda Guerra Mundial”.
Diante de um cenário externo incerto, com dúvidas se pode ocorrer uma crise bancária nos Estados Unidos, a perspectiva é de que o aumento de juros seja menor a partir de agora. Além disso, com crescimento da China estimado em 5%, as exportações brasileiras ganhariam um impulso, completa. Para esse caminho dar certo, é preciso ter cuidado com os níveis de gasto e com agenda micro. Com o desenvolvimento do mercado de capitais, o entendimento dos especialistas é de que o crédito subsidiado não é necessário para o fomento da economia e pode causar distorções.