Enquanto o juro básico da economia e a inadimplência média das famílias estão em trajetória de queda, as taxas de juros de financiamentos ao consumidor continuam praticamente inalteradas, como mostra um levantamento da Fundação Procon de São Paulo.
A taxa média cobrada no empréstimo pessoal nos seis maiores bancos comerciais do País em fevereiro foi de 7,94% ao mês, com redução de apenas 0,01 ponto porcentual em relação a janeiro. Anualizado, o juro do empréstimo pessoal é de 150%.
A taxa Selic, por sua vez, está hoje em 11,25% ao ano, depois de cinco cortes consecutivos de 0,5 ponto porcentual iniciados em agosto de 2023. O último corte ocorreu no final de janeiro deste ano.
Dos seis bancos pesquisados - Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), Caixa, Itaú (BVMF:ITUB4), Bradesco (BVMF:BBDC4), Santander (BVMF:SANB11) e Safra -, apenas dois cortaram os juros do empréstimo pessoal em fevereiro, aponta a pesquisa. Mesmo assim, a redução foi pontual. As demais instituições financeiras mantiveram as taxas de juros de janeiro para fevereiro.
O Itaú reduziu a taxa do empréstimo pessoal de 9,57% ao mês em janeiro para 9,53% em fevereiro. No Bradesco, a taxa, que estava em 9,64% ao mês em janeiro, foi para 9,61% este mês.
O levantamento, feito em 5 de fevereiro, mostra que a menor taxa do empréstimo pessoal é da Caixa (4,96% ao mês) e a maior é do Santander (9,99%).
Juro do cheque especial congelado
No cheque especial, a taxa média de juros pesquisada pela Fundação Procon de São Paulo em seis bancos é de 7,96% ao mês em fevereiro - ou 150,56% ao ano. Esse patamar é o mesmo desde fevereiro de 2021.
O Banco Central (BC) limitou os juros do cheque especial para pessoa física em 8% ao mês em 2019 e essa decisão entrou em vigor em janeiro de 2020.
Em fevereiro, o levantamento aponta que a menor taxa de juros do cheque especial é a do Banco do Brasil (7,73% ao mês). Nos demais, a taxa está em 8% ao mês, ou seja, no limite superior determinado pelo BC.
Na análise da economista Marcela Kawauti, da gestora de recursos Lifetime Asset, apesar de a taxa média de inadimplência dos recursos livres emprestados às famílias ter tido um pequeno recuo em 2023, o patamar do calote continua elevado para linhas de maior risco e sem garantias reais, como cheque especial e empréstimo pessoal.
Isso explica, na opinião da economista, a rigidez das taxas de juros cobradas do consumidor. "As taxas de juros ao consumidor estão estáveis na ponta porque os bancos estão fazendo uma certa compensação do risco."
Isto é, as instituições financeiras estariam aproveitando a redução da queda do custo de captação, a Selic, para cobrir a inadimplência nessas linhas de crédito específicas, que são elevadas. Em dezembro do ano passado, por exemplo, a inadimplência do cheque especial estava em 13,5%, segundo dados do BC. Já no crédito pessoal não consignado, o calote fechou em 6,2%.
Dados do BC mostram que, entre 2020 e 2022, a captação foi a maior fatia do custo do crédito, respondeu por 32,7%, seguido pela inadimplência (19,7%). Depois vieram as despesas administrativas (19%), tributos (14,7%) e a margem dos bancos (13,9%).
Por conta do peso elevado da inadimplência nas taxas, Marcela diz que o ciclo de queda dos juros na ponta normalmente não acompanha de perto o movimento da taxa Selic nas linhas de maior risco. Segundo ela, a relação é mais direta e linear nos financiamentos que contam com garantias reais, com o crédito imobiliário ou de veículos, onde o risco de calote está coberto pelo confisco do bem.