Por Marcelo Teixeira e Roberto Samora
SÃO PAULO/NOVA YORK (Reuters) - O mercado global de açúcar está acompanhando o andamento de um projeto de lei no Brasil que pode reduzir os impostos sobre combustíveis, incluindo a gasolina, levando as usinas a destinar mais cana para a produção do adoçante em detrimento do etanol.
Isso poderia levar a uma redução nos preços do açúcar, uma vez que o Brasil é o maior exportador global da commodity.
Uma nova versão do projeto de lei deve ser apresentada na terça-feira. Ainda não há data para a votação.
O governo brasileiro está pressionando por uma mudança na legislação que limite o imposto estadual ICMS sobre combustíveis a 17%.
Como o tributo é mais alto na gasolina do que no etanol, em patamares acima de 17% para o combustível fóssil, a lei reduziria os preços da gasolina.
Para se manter competitivo, o etanol também teria que cair de preço.
O banco de investimento Itaú BBA disse na terça-feira que, se a legislação for aprovada, levará a um novo nível de suporte mais baixo para os preços do açúcar bruto na ICE.
Se os preços do etanol caírem, as usinas que têm flexibilidade para produzir mais etanol ou mais açúcar, dependendo dos preços de mercado, podem mudar para o açúcar, aumentando a oferta global.
O analista de açúcar e etanol Julio Maria Borges, da JOB Economia, disse que a nova lei pode reduzir a competitividade do etanol em relação à gasolina no principal mercado de combustíveis de São Paulo em 8 pontos percentuais, dificultando a competição do biocombustível.
"Então agora estamos no capricho do sistema político brasileiro, que na melhor das hipóteses é confuso", disse um corretor de açúcar com sede nos EUA.
A trading europeia Marex Spectrum, no entanto, disse em nota que a pressão dos governos estaduais, que perderiam receita com a nova lei, pode levar a atrasos na votação e possivelmente adiá-la indefinidamente, já que os parlamentares brasileiros têm recesso em julho e depois entram em período de campanha eleitoral, antes das eleições de outubro.
Procurada, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) disse que preferia não comentar o assunto no momento.