Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros recuaram nesta quarta-feira em toda curva a termo no Brasil, com investidores reagindo positivamente à aprovação, na Câmara dos Deputados, do texto-base do novo arcabouço fiscal, com ampla margem de votos, enquanto os rendimentos dos Treasuries subiam no exterior.
Na noite de terça-feira, a Câmara aprovou por 372 votos favoráveis a 108 contrários o texto, após ajustes de última hora feitos pelo relator, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), para tornar menos generosa a regra de gastos em 2024. Destaques ao texto-base podem ser votados ainda nesta quarta-feira.
A proposta criada para substituir o teto de gastos estabelece que as despesas federais não poderão crescer mais do que 70% da alta das receitas, além de definir que os gastos crescerão anualmente entre 0,6% e 2,5% acima da inflação.
“No decorrer das últimas semanas, algumas coisas foram mudadas, mas finalmente teremos uma nova regra fiscal. O principal ponto que trouxe otimismo é o limite para o aumento de gastos por parte do governo”, comentou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
Segundo o profissional, um dos maiores medos do mercado era justamente o descontrole das contas públicas. Com a colocação de limites e a aprovação do texto por ampla maioria na Câmara, as taxas de juros reagiram em baixa.
“Isso ficou muito bem marcado na curva a termo, porque lá fora as taxas dos Treasuries subiam”, acrescentou Izac.
Ironicamente, os EUA enfrentam discussões parecidas com as do Brasil, com o objetivo de ampliar o teto da dívida do governo para evitar um default no próximo mês.
Como o impasse entre a Casa Branca e os republicanos continua, sem que um acordo tenha sido alcançado, os rendimentos dos Treasuries avançavam. Ainda assim, os juros futuros se mantiveram em baixa no Brasil.
O diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, lembrou que as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) já vêm recuando há algumas semanas, sobretudo entre os contratos de longo prazo.
"Pelo nosso modelo, os contratos para 2026, 2027, 2028, 2029, 2031, todos estes reverteram suas tendências. O 2025 deve reverter esta tendência de longo prazo esta semana", comentou Faria Júnior. "Isso não significa que as taxas vão cair muito mais, mas significa que elas vão ter dificuldades para subir."
O profissional afirma que este movimento se dá em função do otimismo em relação ao arcabouço, embora boa parte dos economistas e profissionais do mercado ainda tenha dúvidas sobre a viabilidade da nova regra fiscal.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 13,275%, ante 13,296% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,625%, ante 11,685% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,11%, ante 11,161% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,14%, ante 11,196%.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava 11% de chances de o Banco Central reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual no encontro de política monetária de junho e 89% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano.
No exterior, no fim da tarde as taxas dos Treasuries seguiam em alta, na esteira do impasse sobre o teto da dívida dos EUA e após a divulgação da ata do último encontro de política monetária do Federal Reserve.
Às 16:48 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 3,60 pontos-base, a 3,7342%.