Aceno de Trump à China alivia dólar no mundo, mas fiscal reduz baixa ante real

Publicado 23.01.2025, 15:47
© Reuters Aceno de Trump à China alivia dólar no mundo, mas fiscal reduz baixa ante real
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O dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quinta-feira, 23, em queda de 0,35%, cotado em R$ 5,9255. Operadores atribuíram a apreciação do real à onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes latino-americanas, após o presidente dos EUA, Donald Trump, adotar um tom conciliador em relação à China.

Ao longo da tarde, o real exibiu o melhor desempenho entre as principais moedas globais, mas acabou perdendo fôlego na última hora de negócios. Teria pesado contra a divisa brasileira o aumento da aversão ao risco com notícia, veiculada pela Bloomberg e confirmada por fontes ao Broadcast, de que o governo avalia fornecer alimentos com custo reduzido por meio de uma rede popular de abastecimento. Com o mercado já fechado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não se cogita usar "espaço fiscal" para reduzir preços de alimentos e que tudo não passa de "boataria".

Pela manhã, a divisa chegou a apresentar alta moderada, em meio a um aparente movimento de ajustes após o recuo de ontem, quando rompeu o piso de R$ 6,00 no fechamento pela primeira vez desde o início de dezembro. Havia também um sentimento de cautela e busca por proteção diante da expectativa pela participação virtual de Trump no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Depois de anunciar ontem tarifas de 10% sobre importações da China, bem longe dos 60% prometidos na campanha, Trump adotou em Davos postura menos belicosa. A intenção seria ter um bom relacionamento com os chineses, sem abrir mão de combater o déficit comercial americano. O presidente dos EUA revelou que recebeu ligação do líder chinês, Xi Jinping, no qual trataram, entre outros temas, de possível resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia.

"Trump adotou um discurso mais brando em relação à China, sabendo da dependência dos EUA de produtos importados e do impacto de aumento de tarifas sobre a política monetária americana", afirma o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, para quem o Federal Reserve, dependendo das ações de Trump, pode ter espaço para redução adicional da taxa de juros nos EUA. "No caso do real, é positivo o fato de Trump não ter citado o Brasil como alvo da política de aumento de tarifas".

Após as palavras de Trump, o dólar passou a cair na comparação com outras moedas fortes, como o euro, e aprofundou o ritmo de queda em relação a divisas emergentes. Por aqui, o moeda rompeu o piso psicológico de R$ 5,90 e desceu até mínima a R$ 5,8745, menor valor intradia desde 12 de dezembro (R$ 5,8681). Na reta final dos negócios, com a piora da aversão ao risco que jogou o Ibovespa para as mínimas da sessão e os juros futuros para as máximas, o dólar reduziu bastante o ritmo de queda até fechar no nível de R$ 5,92.

Foi o quarto pregão consecutivo de queda da moeda americana, que já acumula baixa de 2,31% na semana e de 4,12% no mês, o que faz o real ter o melhor desempenho entre as principais divisas globais em janeiro. Boa parte desse movimento está relacionado a ajustes e realização de lucros, dado que o dólar subiu 2,88% em dezembro e encerrou 2024 com ganhos de 27,34%.

O economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital, afirma que o recuo recente do dólar reflete, em grande parte, desmonte de posições compradas na moeda americana por investidores estrangeiros, dada a melhora do apetite ao risco no exterior. O gatilho seria o fato de Trump não ter optado por imposição agressiva de tarifas neste início de mandato.

Na B3 (BVMF:B3SA3), a posição comprada em derivativos cambiais (dólar futuro, mini, cupom cambial e swap) de não residentes caiu de quase US$ 80 bilhões no fim de 2024 para cerca de US$ 59 bilhões nos últimos dias.

"A incerteza quanto a um eventual novo governo Trump elevou a aversão ao risco, impulsionando a demanda por dólares. Após a posse do presidente republicano, a propensão ao risco aumentou", afirma, em nota, Rostelato, acrescentando que a sazonalidade também favorece o real, com exportações de grãos no início do ano.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, afirma que ainda é cedo para dizer que há uma tendência sustentada de queda do dólar. Por ora, o real se beneficiaria de um alívio com a postura de Trump nos primeiros dias de seu segundo mandato.

"Vimos no mandato anterior de Trump que as opiniões mudavam com muita frequência, o que provoca muita volatilidade. Além da questão externa, estamos em um momento de agenda política esvaziada, com o Congresso ainda em recesso", afirma Quartaroli.

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