ANÁLISE - Cresce pressão para que BC venda reservas em dólares

Publicado 05.03.2020, 17:22
Atualizado 05.03.2020, 17:25
ANÁLISE - Cresce pressão para que BC venda reservas em dólares

Por Jamie McGeever

BRASÍLIA (Reuters) - A moeda do Brasil está se enfraquecendo tão rapidamente que o Banco Central poderá em breve ser forçado a deixar de lado seus princípios de livre mercado e vender novamente reservas em dólares para interromper a queda.

A volatilidade do mercado está crescendo, por algumas medidas a níveis próximos de quando o BC vendeu reservas cambiais pela última vez em novembro, e alguns analistas afirmam que as quedas quase diárias do real para novas mínimas estão agora minando a confiança na moeda.

Os formuladores de política monetária podem razoavelmente dizer que o declínio do real neste ano, de 14%, é uma função natural da queda das taxas de juros, que todas as moedas emergentes estão sob forte pressão e que o processo não está alimentando as expectativas de inflação no Brasil.

Não que o banco central esteja ocioso. Nas últimas semanas, a autoridade monetária vendeu cerca de 7,5 bilhões de dólares no mercado de swaps cambiais, no qual a demanda de gestores e investidores por hedge é mais forte.

Mas essas ações falharam em retardar a queda do real ou ainda em revertê-la. O real enfraquecia a 4,66 por dólar nesta quinta-feira, elevando sua depreciação nesta semana para 4%, em uma de suas maiores quedas semanais em anos.

Anteriormente impensável, o nível de 5,00 reais por dólar está agora no horizonte.

"Acho que eles precisam vir com um programa, talvez anunciar um montante em torno de 20 bilhões a 30 bilhões de dólares, ou swaps ou reservas em dólares", disse Carlos Kawall, diretor do Asa Bank em São Paulo. "Eles deveriam anunciar que estão prontos para fazer as duas coisas".

Alexandre Song, gerente de portfólio da Macro Capital em São Paulo, alertou que, quanto mais a autoridade monetária permitir que a depreciação continue, mais os operadores irão testar a sua determinação e irão forçar uma resposta monetária ainda maior.

"Está claro que as pequenas intervenções no mercado de swaps não estão funcionando, e a fraqueza do real está se tornando uma profecia auto-realizável", disse Song. "Agora provavelmente é hora de o banco central começar a pensar em uma intervenção adequada".

Um porta-voz do banco central disse à Reuters que qualquer intervenção, seja no mercado de derivativos ou à vista, é determinada pelas "condições de mercado".

AUMENTO DA VOLATILIDADE

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem afirmado repetidamente neste ano que o real é uma moeda flutuante, indicando uma relutância em determinar forçosamente seu caminho ou nível.

Ele e Bruno Serra, diretor de política monetária e chefe da política de reservas internacionais do banco, são provenientes do mercado e fiéis à cartilha de permitir que o livre mercado determine o preço dos ativos.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, com formação na Escola de Chicago, é conhecido por suas visões econômicas do laissez-faire (liberalismo econômico, em português).

Com os juros domésticos nas mínimas históricas, de 4,25%, --e com probabilidade de recuar ainda mais conforme as perspectivas econômicas diminuam-- uma taxa de câmbio depreciada simplesmente é "o novo normal", segundo Guedes.

O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, disse nesta quinta-feira que a política cambial é de responsabilidade exclusiva do banco central, acrescentando que o Tesouro e a autoridade monetária nunca realizam ações coordenadas sobre o real.

Por mais relutante que Campos Neto e seus colegas possam estar em explorar o estoque de 360 bilhões de dólares em reservas cambiais da autoridade monetária, o mercado pode forçar eles a atuarem.

A volatilidade implícita de três meses na taxa de câmbio dólar/real subiu para 12,5% nesta quinta-feira. Isso é superior a novembro, quando o banco central vendeu reservas em dólar pela última vez, e está aproximando-se do nível de 14% de agosto, quando a autoridade monetária desencadeou a sua primeira intervenção de venda de dólar em mais de uma década.

Tony Volpon, economista-chefe do UBS em São Paulo e ex-diretor do BC, disse que a intervenção cambial é um recurso limitado ao qual os formuladores das políticas monetárias só irão recorrer quando acharem que é imprescindível.

"Mas o banco central não quer perder o controle da moeda. Ele precisa ficar de olho na estabilidade financeira", disse Volpon. "Eles precisam manter um mercado de câmbio organizado".

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