Por Francesco Canepa
FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu deveria reduzir pela metade seu estoque de títulos até meados de 2026 antes de retomar as compras para sustentar os empréstimos dos bancos para a economia, de acordo com um documento elaborado por uma equipe do BCE.
Depois de elevar as taxas de juros a níveis recordes para reduzir a inflação, o BCE está analisando o destino de cerca de 3 trilhões de euros em títulos que comprou na última década para estimular a economia.
As principais questões são: qual deve ser o tamanho do balanço patrimonial do BCE agora que a inflação não está mais tão baixa e que tipo de ativos devem fazer parte dele -- empréstimos a bancos ou títulos.
Um documento de discussão elaborado por três dos principais especialistas em política monetária do BCE concluiu que o banco deveria deixar seu estoque de títulos encolher para 1,5 trilhão de euros até meados de 2026, em um processo conhecido como "aperto quantitativo".
Os autores estimaram que esse nível de reservas, equivalente a 3,75% dos ativos dos bancos, seria suficiente para saturar o sistema bancário, conforme postulado pelo economista norte-americano Milton Friedman em um célebre ensaio de 1969. Isso também está de acordo com as expectativas dos analistas em uma pesquisa do BCE.
O BCE teria, então, que começar a aumentar novamente seu estoque de títulos para atender às crescentes necessidades de liquidez dos bancos - em parte um legado da crise financeira de 2008 - de modo que eles não reduzam os empréstimos à economia, argumenta o documento.
"Concluímos que um aperto quantitativo neutro deve ser executado no ritmo esperado até meados de 2026", disseram os autores Carlo Altavilla, Massimo Rostagno e Julian Schumacher. "Em seguida, o balanço patrimonial deve começar a crescer novamente para financiar o crescimento secular da demanda por passivos do banco central."
O documento foi citado pelo economista-chefe do BCE, Philip Lane, neste mês, quando ele defendeu a manutenção de um "portfólio estrutural de títulos" para sustentar "a disposição dos bancos de conceder crédito".
É provável que sua tese seja contestada por outras autoridades que preferem manter um balanço patrimonial enxuto e limitar a presença do BCE nos mercados financeiros.