JACKSON HOLE, Estados Unidos (Reuters) - O Banco Central Europeu possui espaço para cortar os juros possivelmente mais duas vezes este ano, uma vez que a inflação permanece, de modo geral, na trajetória de queda prevista pelas autoridades, disse Martins Kazaks, membro do Conselho do BCE.
O BCE reduziu os juros pela primeira vez após um ciclo recorde de aumentos em junho e os mercados esperam um segundo movimento em 12 de setembro, à medida que o crescimento econômico da zona do euro continua anêmico e as pressões salariais diminuem, apoiando o argumento de que a alta da inflação cairá de volta para a meta de 2% no próximo ano.
Quando perguntado se ele defende um corte já em setembro, Kazaks disse que a inflação está, em grande parte, onde o BCE espera que esteja, de modo que o argumento para o afrouxamento gradual da política monetária está intacto.
"Estamos, de modo geral, na linha de base de nossas projeções, o que é consistente com um declínio gradual dos juros", disse Kazaks, presidente do banco central da Letônia, à Reuters, nos bastidores do simpósio econômico de Jackson Hole, no Estado norte-americano de Wyoming.
"Nossas projeções de junho pressupunham mais dois cortes este ano e, no momento, não vejo nenhuma razão para não seguirmos adiante", disse ele, acrescentando que só se decidirá sobre o que fazer em setembro depois que os números da inflação de agosto forem divulgados e ele ver as novas projeções do BCE.
Embora algumas impressões recentes sobre a inflação tenham surpreendido positivamente, Kazaks disse que o foco em números isolados pode não levar em conta o todo.
Ele argumentou que as tendências mais amplas da economia são consistentes com a diminuição das pressões dos preços e que isso deve se traduzir em leituras de inflação mais baixas.
"Nossas projeções já pressupunham um crescimento relativamente rápido dos salários e, nesta semana, obtivemos números que mostram uma diminuição dessas pressões salariais, o que também corrobora uma trajetória de diminuição gradual", disse Kazaks.
Mas Kazaks também deixou claro que o BCE não deve tolerar mais nenhum deslize na data em que atingirá sua meta de inflação, devido aos atrasos já ocorridos.
"Ficarei preocupado se nossas projeções mostrarem que o retorno à meta de 2% será adiado para 2026", disse ele. "Agora esperamos chegar lá até o final de 2025, e isso já foi adiado o bastante."
(Por Balazs Koranyi em Jackson Hole, Wyoming)