Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em alta de mais de 1% nesta quinta-feira e chegou a superar os 5,24 reais nos picos da sessão, deixando a moeda brasileira com um dos piores desempenhos globais no dia em meio a temores persistentes sobre um aperto monetário agressivo nos Estados Unidos.
A moeda norte-americana à vista saltou 1,18%, a 5,2396 reais na venda, maior patamar para encerramento desde 3 de agosto (5,2781). No pico, a divisa norte-americana saltou 1,30%, a 5,2461 reais.
O salto desta quinta-feira veio depois de disparada de 1,80% do dólar na terça, num rali que deixava a divisa a caminho de encerrar a semana em alta de quase 2% contra o real.
Na B3 (BVMF:B3SA3), onde as negociações vão além das 17h (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,43%, a 5,2620 reais.
O real passou boa parte do pregão com o pior desempenho entre uma cesta das principais moedas do mundo, posto que dividiu com o sol peruano. Outras divisas arriscadas pares do real, como dólar australiano, peso mexicano e rand sul-africano, também tiveram queda nesta quinta-feira, embora a ritmo mais moderado.
Sinal de aversão a risco global, os principais índices de ações do mundo fecharam esta quinta-feira no vermelho, movimento que contaminou o Ibovespa.
"O pano de fundo para tudo isso parece estar relacionado à retomada das preocupações com a política monetária nos EUA, especialmente a decisão (sobre a taxa de juros do Federal Reserve) da próxima semana", disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
"E não apenas a decisão, que pode indicar um aperto monetário mais forte nos EUA após os dados desta semana, mas também os reflexos dessa escolha mais dura --leia-se risco de recessão", completou o especialista.
A semana, até o momento, foi marcada por surpresas em importantes indicadores norte-americanos. Números de terça-feira mostraram alta inesperada na inflação ao consumidor dos EUA, enquanto dados desta quinta informaram que as vendas no varejo do país subiram 0,3% em agosto, contrariando expectativa de estabilidade.
Além disso, os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram na semana passada, indicando força no mercado de trabalho da maior economia do mundo, mostrou relatório separado nesta manhã.
Com os dados sustentando cenário de resiliência tanto da inflação quanto da atividade econômica nos EUA, os mercados passaram a dar como praticamente certa a adoção de aumento de juro de 0,75 ponto percentual na reunião de setembro do Fed, na semana que vem, com pequenas chances de haver ajuste ainda mais agressivo, de 1 ponto completo.
Juros mais altos na maior economia do mundo tendem a atrair capital para o mercado de renda fixa norte-americano, o que é benéfico para o dólar.
Enquanto isso, no Brasil, investidores também ficavam atentos às discussões sobre os juros, já que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fará reunião na semana que vem, nos dias 20 e 21, mesmas datas do encontro do Fed.
Probabilidades implícitas em contratos futuros de juros mostram que a maior parte dos mercados (60%) acredita que o Bacen deixará a taxa Selic no patamar atual, de 13,75%, ao fim de seu próximo encontro, mas consideráveis 40% esperam elevação dos custos de empréstimo a 14%.
(Por Luana Maria BeneditoEdição de Roberto Samora)