Ibovespa fecha em queda pressionado por Petrobras, mas sobe em semana marcada por resultados corporativos
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar à vista caiu ante o real pela quarta sessão consecutiva nesta quarta-feira, na esteira dos ganhos de outras moedas emergentes, conforme a expectativa por cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve e a forte alta da bolsa paulista impulsionaram a moeda brasileira.
O mercado doméstico também seguiu monitorando novidades no embate comercial entre Brasil e Estados Unidos, depois da entrada em vigor nesta quarta-feira da tarifa de 50% do presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros.
O dólar à vista fechou em baixa de 0,78%, a R$5,4627. Desde o fechamento de quinta-feira, a moeda acumula queda de 2,5%.
Às 17h14, na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,81%, a R$5,497 na venda.
Os movimentos do real neste pregão foram amplamente influenciados pelo cenário externo, onde o dólar também recuou frente a moedas de outros países emergentes, como o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso colombiano.
No foco dos mercados globais continua a crescente expectativa por cortes de juros pelo banco central dos EUA a partir de setembro, depois de um relatório de emprego fraco para julho e da renúncia antecipada da diretora Adriana Kugler.
Nesta quarta-feira, mais uma autoridade se mostrou aberta à possibilidade de cortes de juros no curto prazo. O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, previu que o banco terá que responder a desaceleração da economia norte-americana, defendendo duas reduções de juros neste ano como "razoáveis".
Com isso, operadores levaram a probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual nos juros em setembro a 96%, segundo dados da LSEG. Na semana passada, a chance era inferior a 50%.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,49%, a 98,252.
O cenário doméstico, por sua vez, também esteve favorável ao real devido aos fortes ganhos registrados na bolsa brasileira, à medida que os investidores avaliaram uma nova bateria de balanços corporativos. Índice de referência do mercado, o Ibovespa avançou 1,12%, a 134.637,97 pontos.
O avanço das ações brasileiras permite a atração de um maior fluxo de capital estrangeiro para o país, o que, por consequência, pressiona a divisa norte-americana ante o real.
"Avaliamos que o mercado local permanece bastante atrativo para o investidor estrangeiro, seja por conta da confortável posição das contas externas, pela expectativa de maior crescimento do PIB e pela atratividade do carry trade", disse Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine (BVMF:PINE4).
Na mínima da sessão, às 15h46, o dólar atingiu R$5,45915 (-0,84%). Na máxima, a moeda foi a R$5,5109 (+0,1%), já nos primeiros minutos de negociações.
Apesar dos fatores positivos para a moeda brasileira, o mercado doméstico ainda segue dependente em grande parte de novidades concretas na busca do governo do Brasil por negociar com Washington a tarifa punitiva de Trump.
De modo geral, os investidores desejam saber se haverá mais isenções para produtos brasileiros e qual será o plano de contingência do governo para ajudar empresas e setores mais afetados pela taxa dos EUA.
Em entrevista exclusiva à Reuters nesta quarta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que não vê espaço para negociações diretas com Trump, acrescentando que o Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas.
Também nesta quarta, o governo apresentou pedido de consultas aos EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) por causa da imposição por Washington da tarifa de 50%, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Pela manhã, o Banco Central vendeu 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025.
(Edição de Pedro Fonseca)