Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar acelerou suas perdas frente ao real nesta quinta-feira depois da divulgação de dados de inflação norte-americanos mais fracos do que o esperado, que reforçaram a perspectiva de nova desaceleração no ritmo de aperto monetário do Federal Reserve.
Os preços ao consumidor nos Estados Unidos caíram inesperadamente pela primeira vez em mais de dois anos e meio em dezembro, em meio à queda nos preços da gasolina e de outros bens, sugerindo que a inflação agora está em uma tendência de baixa sustentada.
Economistas consultados pela Reuters previam que o índice de preços ao consumidor permaneceria inalterado no mês passado.
"Finalmente podemos ter visto o pico da inflação (nos EUA) ficando para trás, coisa que esperamos desde junho de 2021", disse Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Gestora, em publicação no Twitter.
Uma redução das pressões de preços nos EUA pode abrir espaço para abrandamento no ciclo de aperto monetário do banco central norte-americano, que já subiu sua taxa de juros em 4,25 pontos percentuais no ano passado. Isso, por sua vez, colocaria pressão sobre o dólar, que tende a se beneficiar de custos de empréstimos mais altos.
Operadores de futuros vinculados à taxa de juros do Federal Reserve aumentaram as apostas nesta quinta-feira de que o banco central norte-americano desacelerará ainda mais seu ritmo de aperto na próxima reunião. O mercado reflete agora probabilidade de quase 85% de que o Fed elevará os juros em 0,25 ponto percentual em sua próxima reunião, contra apenas 15% de chance de um segundo aumento consecutivo de 0,50 ponto.
Às 11:44 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,54%, a 5,1531 reais na venda, em linha com a queda de 0,5% do índice que compara a divisa norte-americana a seis pares fortes. Na mínima do dia, atingida após a divulgação dos dados dos EUA, o dólar chegou a cair 1,33%, a 5,1122 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 11:44 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,16%, a 5,1720 reais.
Segundo Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, a queda do dólar nesta sessão também reflete falas da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, que na véspera fez acenos à responsabilidade fiscal e indicou um antigo secretário do ex-ministro Paulo Guedes no Ministério da Economia para ser seu número 2 na pasta.
Em meio aos esforços da ala econômica do governo para ganhar a confiança dos mercados, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, marcou para 14h30, no Palácio do Planalto, o anúncio de novas medidas, que será seguido de coletiva de imprensa. O evento deve contar com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os eixos de atuação incluem reavaliação das receitas federais para 2023 e medidas para ampliar a arrecadação e cortar gastos.
O dólar acumula baixa de cerca de 2,6% frente ao real até agora em janeiro, depois de a moeda brasileira também ter sido beneficiada pela forte reação de autoridades brasileiras a ataques bolsonaristas às sedes dos Três Poderes em Brasília no último domingo.
Na véspera, o dólar negociado no mercado interbancário caiu 0,40%, a 5,1813 reais na venda, renovando mínima para encerramento desde 23 de dezembro (5,1655).