Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar trabalhava em alta frente ao real nesta segunda-feira, refletindo o comportamento da moeda norte-americana contra outras divisas emergentes depois que o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, substituiu o presidente "hawkish" do banco central por um crítico da altas de juros, deixando a lira em queda livre e enviando ondas de choque pelos mercados de câmbio globais.
Após a medida de Erdogan, a moeda da Turquia chegou a cair 15% nesta segunda-feira, para perto de sua mínima recorde, em meio a temores de uma reversão das recentes altas dos juros.
"Após uma alta de 200 bps (na taxa de juros da Turquia) na última reunião (de política monetária), para 19%, o primeiro-ministro optou por uma postura agressiva e não ortodoxa, trocando o líder do BC por um nome mais alinhado com suas crenças e convicções", disse em post no Twitter Dan Kawa, CIO e sócio da TAG Investimentos.
Para ele, "o problema da Turquia é pontual e localizado" e não tem "semelhanças com outros países", mas ele disse que, no curto prazo, a forte depreciação dos ativos do país pode levar a algum contágio a outros mercados por "efeitos técnicos de redução de posições relativas e absolutas, assim como para fins de redução de risco (...)."
Às 10:28, o dólar avançava 0,79%, a 5,5274 reais na venda, enquanto o dólar futuro negociado na B3 subia 0,60%, a 5,527 reais.
O peso mexicano, par emergente do real e da lira turca, apresentava queda de quase 1% nesta manhã. Rand sul-africano, peso chileno e dólar australiano, outras moedas sensíveis a risco, perdiam entre 0,1% e 0,5% contra o dólar.
O índice da moeda norte-americana contra uma cesta de rivais fortes operava em queda de cerca de 0,25%.
Enquanto isso, no cenário doméstico, a política e a situação da pandemia de Covid-19 seguem no radar.
"Aqui, parece mesmo que o cerco ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro está se fechando, a cada dia", opinou em nota Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora.
A ofensiva do presidente Jair Bolsonaro contra medidas de restrição impostas por governadores e prefeitos para conter o avanço da Covid-19 gerou críticas entre os parlamentares na semana passada, que apontaram excesso e interesse eleitoral na movimentação.
Enquanto isso, vários economistas e empresários assinaram uma carta de alerta sobre a situação da pandemia no Brasil e seu agravamento, cobrando do governo aceleração do ritmo de vacinação e medidas de distanciamento social.
"Reações do Centrão rompendo a 'lua de mel' com o presidente e (...) a carta dos economistas, divulgada no fim de semana e subscrita por representantes do setor financeiro, aumentam a temperatura em Brasília, em meio à maior crise sanitária já vivida pelo país", explicou Gomes da Silva.
Na última sessão, o dólar spot registrou queda de 1,50%, a 5,4839 reais na venda.
O Banco Central anunciou para esta segunda-feira leilão de swap tradicional para rolagem de até 16 mil contratos com vencimento em dezembro de 2021 e abril de 2022.
Além disso, a autarquia fará na próxima quinta-feira, dia 25, leilão de venda de dólares à vista com compromisso de recompra, oferecendo até 3,0 bilhões de dólares na operação.
O BC tem sido mais ativo no mercado de câmbio nas últimas semanas, realizando vendas de dólares nos mercados à vista e de derivativos diante da escalada do dólar e riscos de contaminação desse movimento à inflação.