Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar hoje à vista fechou em baixa ante o real pela segunda sessão consecutiva, em sintonia com a queda da moeda norte-americana no exterior, após dados de inflação nos Estados Unidos aumentarem a percepção de que o Federal Reserve poderá subir seus juros apenas mais uma vez -- e não duas vezes, como originalmente previsto.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 4,8174 reais na venda, com baixa de 0,92%.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:24 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,77%, a 4,8330 reais.
O dólar oscilou no território negativo durante toda a sessão. Até as 9h30 (horário de Brasília), quando foram divulgados os dados da inflação norte-americana, a divisa se mantinha perto da estabilidade. Quando os números saíram, o dólar à vista despencou ante o real.
O Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao consumidor subiu 0,2% no mês passado, após avançar 0,1% em maio. O resultado ficou abaixo da projeção de 0,3% dos economistas ouvidos pela Reuters. Nos 12 meses até junho, o índice avançou 3,0% -- o menor aumento anual desde março de 2021. Economistas projetavam 3,1%.
Mais do que o índice cheio, o núcleo de inflação demonstrou arrefecimento, com alta de 0,2% em junho. Foi a primeira vez em seis meses que o núcleo não registrou ganhos mensais de pelo menos 0,4%. Nos 12 meses até junho, o núcleo subiu 4,8%, após alta de 5,3% em maio.
Os dados elevaram a percepção de que o Federal Reserve poderá aumentar seus juros, atualmente na faixa de 5% a 5,25% ao ano, apenas mais uma vez este ano -- e não duas vezes, como projetado pela instituição em seu último encontro de política monetária.
Em função disso, o dólar passou a ter perdas firmes ante uma cesta de moedas fortes e em relação às divisas de países emergentes ou exportadores de commodities. No Brasil, a moeda marcou a cotação mínima de 4,7835 reais (-1,61%) às 11h08.
“Defendo que o Fed nem precisa subir juros na próxima reunião, mas o mercado parece convicto disso. Só que a segunda alta prevista caiu para menos de 30% de probabilidade com os números de inflação”, comentou José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos.
“O índex (índice do dólar ante uma cesta de moedas fortes) estava caindo mesmo quando o Fed, na reunião anterior, projetou duas altas de juros ainda em 2023. Agora que esta perspectiva enfraqueceu, ele volta a cair, o que influencia a baixa do dólar também ante o real”, acrescentou.
Entre os profissionais, permanece a percepção de que, ainda que os juros subam nos EUA e caíam no Brasil – como vem sendo precificado na curva a termo – o diferencial de juros brasileiro seguirá atrativo ao capital internacional. Com isso, haveria pouco espaço para uma elevação mais consistente do dólar.
Mesmo porque, o governo segue obtendo vitórias: a reforma tributária foi aprovada na Câmara, assim como o projeto que trata de decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), enquanto o novo arcabouço fiscal aguarda apenas uma segunda votação pelos deputados.
Neste cenário, a avaliação positiva do trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelo mercado financeiro mais que dobrou em julho na comparação com maio, passando a 65%, mostrou pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira.
“Temos uma conjuntura de inflação em queda, juros em queda, avanço de reformas relevantes... Algumas coisas não são ideais, mas já são muito melhores do que o mercado visualizava”, comentou Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, ao justificar o viés recente de baixa para o dólar ante o real.
No exterior, o dólar também sustentava perdas ante as demais divisas no fim da tarde.
Às 17:24 (de Brasília), o índice do dólar --que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas-- caía 1,04%, a 100,540.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de setembro.