Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista emplacou nesta sexta-feira a quarta sessão consecutiva de queda ante o real, chegando a oscilar abaixo dos 5,50 reais durante o dia, com as cotações refletindo novamente a busca por ativos de risco em todo o mundo.
A moeda norte-americana à vista fechou o dia em queda de 1,05%, cotada a 5,5151 reais. Esta é a menor cotação de fechamento desde 17 de julho, quando encerrou em 5,4850 reais. Com o recuo dos últimos quatro dias, o dólar à vista acumulou baixa de 3,43% na semana. Foi a primeira queda semanal após três semanas consecutivas de ganhos.
Às 17h05, na B3 (BVMF:B3SA3) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,38%, a 5,5285 reais na venda.
A semana foi marcada por forte volatilidade nos mercados globais, que se refletiu nos negócios também no Brasil. Na segunda-feira, os receios de que os EUA possam estar a caminho de uma recessão fizeram o dólar chegar a ser cotado a 5,86 reais durante o dia.
Desde terça-feira, no entanto, novos dados sobre a economia norte-americana reduziram a expectativa por uma recessão iminente nos EUA, o que fez os investidores retomarem a busca por ativos de maior risco, como ações e moedas de países emergentes como o real, o peso chileno e o peso mexicano.
O enfraquecimento do iene ante o dólar em sessões anteriores era outro fator, apontado por profissionais do mercado, para que as moedas de emergentes como o real tenham se fortalecido nos últimos dias. O movimento interrompeu desmontagens de operações de carry trade que, nas últimas semanas, vinham penalizando as divisas de emergentes.
No carry trade, investidores tomam recursos em países como o Japão, onde as taxas de juros são baixas, e reinvestem em países como o Brasil, onde a taxa de juros é maior. Na desmontagem destas operações, o real vinha sendo penalizado.
Nesta sexta-feira, a busca por risco deu novamente o tom nos mercados globais, o que fez o dólar cair ante a maioria das demais divisas.
“Iniciamos a semana com um sentimento muito ruim em relação à recessão nos EUA, mas isso deu uma normalizada, o que se reflete nos juros e no câmbio”, comentou durante a tarde Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, ao avaliar a queda firme do dólar ante o real e o fechamento da curva de juros brasileira nesta sexta.
“Por mais que ainda tenha problemas fiscais, o Brasil ainda é um país com entrada de capital estrangeiro”, acrescentou.
Neste cenário, o dólar oscilou em baixa durante toda a sessão. Após marcar a cotação máxima de 5,5552 reais (-0,33%) às 9h05, pouco depois da abertura, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,4917 reais (-1,47%) às 14h19. Depois de tocar abaixo dos 5,50 reais, no entanto, a moeda recuperou um pouco de força.
A baixa firme do dólar era vista também no exterior em relação às divisas de países emergentes e ante uma cesta de moedas fortes. Às 17h22 o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,14%, a 103,140.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.
Também pela manhã, com efeitos reduzidos no câmbio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o índice oficial de inflação, o IPCA, subiu 0,38% em julho, registrando a maior taxa desde fevereiro, após alta de 0,21% em junho. No acumulado de 12 meses até julho, o IPCA teve alta de 4,50%, ficando no teto da meta de inflação do Banco Central.
Os números vieram um pouco acima das expectativas apontadas por economistas em pesquisa da Reuters, de aumento de 0,35% em julho e de alta de 4,47% em 12 meses.