SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caminhava para a maior queda diária ante o real em cerca de um ano e meio nesta terça-feira, captando algum alívio visto nos mercados globais nesta sessão depois da turbulência da véspera que contaminou o câmbio local e empurrou a moeda norte-americana a novas máximas históricas frente à brasileira.
O Banco Central interveio neste pregão com a venda de 2 bilhões de dólares em moeda à vista, que se soma aos 3,465 bilhões de dólares nessa modalidade já colocados na véspera --este o maior volume a ser liquidado em um mesmo dia desde pelo menos maio de 2009.
Às 16:15, o dólar recuava 1,84%, a 4,6386 reais na venda. Mantido esse ritmo, a moeda fechará com a maior queda desde 8 de outubro de 2018 (-2,35%).
Na B3, o dólar futuro tinha baixa de 1,79%, a 4,6490 reais.
Os juros futuros também tinham alívio, "primeiro pelo cancelamento do leilão tradicional de LTN e NTN-F na quinta-feira, mantendo somente LFT, e também pela reação das moedas dos mercados emergentes", disse Luis Laudisio, operador da Renascença.
Depois do tombo da véspera, os mercados financeiros mundiais esboçavam reação com expectativas de estímulos por bancos centrais e governos. O principal índice da bolsa brasileira subia 4,7%, enquanto o índice S&P 500 da Bolsa de Nova York ganhava 2,6%, e o petróleo WTI saltava quase 12% após a queda livre de mais de 20% da segunda-feira.
No câmbio brasileiro, a discussão sobre mais cortes de juros seguia no radar do mercado, já que poderia reduzir mais o diferencial de retornos entre a renda fixa brasileira e a de outros países emergentes, o que jogaria contra o cenário para o fluxo cambial.
Vicente Matheus Zuffo, diretor de investimentos da SRM Asset, lembra que o real tem se comportado pior que seus pares emergentes desde o último corte de juros pelo Copom (5 de fevereiro), enquanto a curva longa de juros tem caído menos que a parte intermediária.
O Copom volta a se reunir em 17 e 18 de março.
"Um corte, ainda mais de 75 pontos-base, provavelmente faria a curva empinar ainda mais e manteria o real insistentemente fraco", disse.
Desde 5 de fevereiro, o real perdeu 9,9% (até o fechamento da véspera), enquanto o rand sul-africano caiu 8,2% e a lira turca cedeu 2,7%. O peso chileno depreciou 6,9%.
(Por José de Castro)