Em pregão de liquidez reduzida e com algumas trocas de sinal, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 3, em baixa de 0,07%, cotado a R$ 5,2002, após correr menos de cinco centavos entre mínima (R$ 5,1848) e máxima R$ (5,2304). Assim, a moeda termina a semana praticamente estável (+0,03%).
Segundo analistas, a cautela em torno dos desdobramentos das críticas do presidente Lula ao Banco Central, reforçadas ontem após a divulgação do PIB do quarto trimestre, impediu que o real se beneficiasse de forma mais abrangente da rodada de enfraquecimento do dólar no exterior. O dia foi de apetite ao risco lá fora com dados fortes do setor de serviços na China e indicadores bons de atividade nos EUA e Europa.
Termômetro do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em queda firme, abaixo da linha dos 105,000 pontos. A moeda americana caiu em relação à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com perdas fortes ante pares do real como peso chileno e mexicano.
Segundo o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, a formação da taxa de câmbio hoje esteve em "um cabo de guerra" entre a tendência externa de baixa da moeda americana e o quadro político doméstico conturbado. "A questão política prejudica a nossa moeda. Tivemos dados chineses muito melhores, o que é muito favorável para o real, mas ainda há muita preocupação com a pressão do governo sobre o Banco Central", afirma Caciano, ressaltando que os agentes ainda estão digerindo o significado da forte saída de recursos da bolsa brasileira em fevereiro.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, diz que o comportamento do dólar no exterior hoje parece sinalizar que investidores já teriam incorporaram aos preços a 'repreficação' da curva de juros americana, com a expectativa de que o Federal Reserve eleve a taxa básica de juros para mais de 5,5%. Já as divisas emergentes têm sem beneficiado da perspectiva de preços de commodities mais elevados, dada à sequência de indicadores positivos da economia chinesa.
"A China está ajudando bastante o real. A taxa de câmbio que está até certo ponto resistindo a esse ambiente pior com essa pressão política sobre o Banco Central, que se reflete mais na curva de juros", afirma Velho.
Ontem à noite, em entrevista a BandNews FM, o presidente Lula, sob impacto da desaceleração do PIB, voltou a atacar a gestão da política monetária. "Qual é a explicação de ter juros a 13,75% ao ano em um país em que a economia não está crescendo?", questionou.
Ao se referir ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Lula disse que é "um cidadão que não foi eleito para nada" e que "acha que tem o poder de decidir as coisas" e ajudar o país. "Não, você não tem que pensar como ajudar o Brasil, tem que pensar como reduzir a taxa de juros", disse. "Ele tem que estar preocupado com inflação, emprego e crescimento da economia".
"Se o BC tomar uma decisão prematura de reduzir ou sinalizar que vai reduzir as taxa de juros em breve no Copom deste mês, o ambiente para ativos domésticos pode piorar, com curva longa subindo, porque as expectativas de inflação não estão recuando", afirma Velho, da JF Trust.