Após tocar o nível de R$ 5,38 já na abertura do pregão e trabalhar em alta firme pela manhã, o dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde e, com um tombo na reta final dos negócios, encerrou a sessão desta sexta-feira, 28, em baixa de 0,12%, cotado a R$ 5,3004 (mínima do dia). Com valorização em três dos últimos cinco pregões, o dólar fecha a semana no mercado doméstico de câmbio com ganhos de 2,96%, o que faz do real a moeda de pior desempenho divisas de emergentes no período.
Segundo operadores, a formação da taxa de câmbio no mercado à vista na sessão desta sexta foi muito influenciada pelo o tombo da divisa no mercado futuro, em razão de fatores técnicos típicos de encerramento de mês. Às vésperas da formação da última Ptax de outubro e da rolagem de posições, na segunda-feira, o contrato de dólar futuro para novembro - principal termômetro do apetite por negócios - teve giro forte, acima de US$ 18 bilhões.
Entusiasta da moeda brasileira, o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que está é a primeira semana em 2022 na qual o real apresenta performance inferior a de seus pares. "Com as pesquisas apertadas, os mercados começam a se preocupar com o risco de transição e de contestação do resultado", afirma Brooks, no Twitter. "Colocamos o prêmio de risco eleitoral ao redor de 10%. Portanto, com um resultado ordeiro, podemos ver o dólar vir bem abaixo dos R$ 5,00".
Segundo noticiou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), há rachaduras dentro da campanha de Jair Bolsonaro, cuja última cartada para minar a credibilidade do pleito foi o caso das inserções de propaganda nas rádios - frente de batalha que já abandonada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, teria sugerido postergação das eleições. Mas a ideia encontra forte resistência no Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe ou à tática para vencer no "tapetão". As principais pesquisas de intenção de voto mostram liderança apertada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou quadro de empate técnico entre os candidatos.
Para a economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais, o mercado foi muito contaminado nesta semana pela expectativa em torno das eleições. Ela mantém uma visão otimista para ativos domésticos e acredita que, com a perspectiva de prolongamento de juro real alto (após a decisão do Copom na quarta-feira) e a possibilidade de preços de commodities elevados em razão da guerra da Ucrânia, pode haver um retorno do fluxo estrangeiro após as eleições.
"O real tende a ganhar com o juro real alto por tempo prolongado e crescimento econômico melhor que de outros emergentes. Por enquanto, com o impasse fiscal, uma faixa de dólar entre R$ 5,20 e R$ 5,40 ainda é saudável", afirma Ariane, acrescentando que, mais do que o comportamento da moeda americana no exterior, o que vai ditar a formação da taxa de câmbio são os sinais sobre a política fiscal.
No exterior, houve também uma desaceleração dos ganhos do dólar frente a pares fortes ao longo da tarde, com o índice DXY, que chegou a atingir máxima acima dos 111,000 pontos, operando entre leve alta, ao redor dos 110,600 pontos. Indicadores de inflação e gastos ao consumo nos EUA vieram em linha com o esperado. A maioria de divisas emergentes e de exportadores de commodities perdeu fôlego, em meio ao avanço das taxas dos Treasuries. As cotações do petróleo caíram mais de 1%, com o tipo Brent para janeiro, referência para a Petrobras (BVMF:PETR4), em baixa de 1,33%, a US$ 93,77 o barril. As cotações do minério de ferro também recuaram com preocupações sobre a demanda chinesa, na esteira de medidas restritivas para combater a covid-19.