Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia frente ao real nesta sexta-feira, recuperando-se de algumas das perdas da véspera, à medida que as preocupações dos investidores com o cenário fiscal brasileiro superava a influência de negociações estáveis no exterior antes da eleição presidencial dos Estados Unidos.
Às 9h52, o dólar à vista subia 0,5%, a 5,6919 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,33%, a 5,690 reais na venda.
Nesta sessão, a agenda macroeconômica esvaziada no Brasil e no exterior e a falta de novas notícias sobre os principais eventos observados por investidores, como o pacote de estímulo na China e o conflito no Oriente Médio, fazia o mercado nacional se voltar para o cenário doméstico.
Os agentes financeiros seguem receosos em relação às promessas do governo de medidas de contenção de gastos a fim de se cumprir as regras do arcabouço fiscal e controlar a trajetória da dívida, mesmo após falas de autoridades que geraram algum alívio na quinta-feira.
Em entrevista coletiva às margens das reuniões da trilha de finanças do G20, em Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defenderam a adoção de medidas que reforcem uma trajetória sustentável das contas públicas.
O ministro, em particular, disse não ver necessidade de reformar o arcabouço fiscal, mas sim de mostrar que ele é crível.
"Houve um certo alívio no dólar ontem, após Haddad tentar dissipar as preocupações relacionadas ao fiscal. No entanto, os mercados já estão acostumados a serem decepcionados por promessas vazias", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
"Até que medidas concretas de contingenciamento sejam implementadas, é improvável que o dólar receba suporte definitivo do cenário local", completou.
As preocupações com a questão fiscal também podiam ser novamente observadas na curva de juros brasileira, com os juros futuros subindo, com destaque para as altas em vencimentos de prazo mais longo, refletindo o pessimismo pela trajetória fiscal no futuro.
Isso fazia o real se desviar do cenário externo, onde havia poucas movimentações nos mercados de câmbio.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,11%, a 103,930.
Entre emergentes, a moeda norte-americana estava próxima da estabilidade ante o peso mexicano, o peso chileno e o peso colombiano, apesar dos ganhos nos preços de commodities importantes nesta sexta, como o petróleo e o minério de ferro, o que seria, em tese, positivo para as divisas desses mercados.
Por trás da demonstração de cautela, estava o nervosismo de investidores com a aproximação da eleição presidencial dos EUA, uma disputa acirrada entre a vice-presidente, Kamala Harris, e o ex-presidente Donald Trump.
A expectativa pelo pleito impulsionou o dólar nesta semana, uma vez que os mercados aumentaram as apostas na vitória de Trump, cujas promessas para a economia têm sido consideradas inflacionárias por parte de analistas, o que seria favorável para a divisa dos EUA.
O dólar tem se mantido firme ainda pela redução das expectativas dos agentes financeiros de um afrouxamento monetário agressivo no Federal Reserve, que tem elevado os rendimentos dos Treasuries nas últimas sessões.
Nessa frente, havia certo alívio. O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 2 pontos-base, a 4,184%.