Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar era negociado em alta contra o real nesta sexta-feira, em torno de 5,40 reais e caminhando para fechar a semana com ganhos em meio a tensões entre Estados Unidos e China e dados de emprego norte-americanos que mostraram desaceleração na criação de vagas de trabalho.
Além disso, segundo analistas, o comportamento dos investidores continuava refletindo o corte da taxa Selic pelo Banco Central à nova mínima histórica de 2% ao ano.
Às 10:39, o dólar avançava 1,58%, a 5,4273 reais na venda, enquanto o dólar futuro negociado na B3 ganhava 1,62%, a 5,425 reais.
Na semana, o dólar sobe quase 3,5% em relação ao fechamento da última sexta-feira.
O dia era de força do dólar contra outras moedas em meio ao agravamento das tensões sino-americanas, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou proibição dos populares aplicativos chineses TikTok e WeChat.
Ao mesmo tempo em que ganhava força devido ao aumento da cautela nos mercados internacionais, o dólar reagia à desaceleração da criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos, embora os números tenham vindo acima do esperado.
O Departamento do Trabalho norte-americano disse nesta sexta-feira que foram criadas 1,763 milhão de vagas de trabalho no mês passado, após um recorde de 4,791 milhão de novos empregos em junho. A expectativa de economistas consultados pela Reuters era de criação de 1,6 milhão de postos de trabalho.
"(O dado) veio acima do esperado nos Estados Unidos, e o dólar acaba se valorizando em relação às outras moedas", disse à Reuters Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.
Mas, segundo ele, dados norte-americanos recentes sobre o emprego, como os números de pedidos semanais de auxílio-desemprego, apesar de terem superado expectativas de analistas, ainda mostram um grande impacto da pandemia no mercado de trabalho. "A perda de empregos ainda é bem considerável", comentou.
No exterior, divisas arriscadas como a moeda australiana, peso mexicano, rand sul-africano e lira turca registravam perdas contra o dólar, cujo índice ante uma cesta de pares fortes disparava 0,7%.
Enquanto isso, no Brasil, "uma das coisas que pesa é a questão dos juros", disse Alencastro. "Uma Selic a 2% é algo inédito, um nível bem mais baixo do que se oferecia, enquanto ainda há incerteza sobre uma recuperação e como vai evoluir a situação do vírus."
Na quarta-feira, o Banco Central cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto, em linha com expectativa majoritária do mercado, à nova mínima histórica de 2% ao ano, e manteve a porta aberta para novos ajustes na taxa de juros à frente, embora tenha pontuado que, se vierem, eles serão ainda mais graduais e dependerão da situação das contas públicas.
O ambiente doméstico de juros baixos é apontado como um dos fatores para a disparada do dólar em 2020, que acumula alta de quase 35% contra o real no ano.
Na véspera, o dólar spot fechou em alta de 0,93%, a 5,3429 reais na venda.
Nesta sexta-feira, o Banco Central fará leilão de swap tradicional de até 10 mil contratos com vencimento em novembro de 2020 e março de 2021.