Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar desabou 4% e marcou sua maior baixa percentual diária em mais de quatro anos nesta segunda-feira, depois que um resultado mais apertado do que o esperado no primeiro turno das eleições presidenciais melhorou a perspectiva de investidores sobre a agenda econômica e fiscal do próximo governo do país.
A moeda norte-americana à vista despencou 4,02%, a 5,1770 reais, em sua maior queda percentual diária desde o recuo de 5,6% visto em 8 de junho de 2018. Na ocasião, a divisa norte-americana foi abatida por intervenção do Banco Central no câmbio e teve seu tombo mais expressivo desde outubro de 2008.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:20 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 4,20%, a 5,2020 reais.
No menor patamar da sessão, o dólar caiu 4,46%, a 5,1537 reais, nível que não era visto desde o último dia 22.
Com o desempenho desta segunda-feira, o dólar aprofundou suas perdas no ano para mais de 7%. Até sexta-feira passada, a moeda acumulava baixa de apenas 3,2%.
O desabamento da divisa norte-americana foi acompanhado de disparada de mais de 5% do Ibovespa e forte queda dos juros futuros, em performance que fez dos ativos brasileiros destaque positivo no mundo. O real ostentou durante todo o pregão a posição de divisa com o melhor desempenho entre uma cesta de pares globais do dólar.
Guilherme Esquelbek, analista da Correparti Corretora, citou amplo movimento de desmonte de posições defensivas depois que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) teve um desempenho acima do estimado pelas principais pesquisas de opinião no primeiro turno de domingo. Agora, ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputarão uma tensa segunda rodada.
Além disso, vários candidatos declaradamente bolsonaristas conquistaram cadeiras no Senado, enquanto, na Câmara dos Deputados, o PL, partido do atual presidente da República, consolidou a posição de maior bancada da Casa.
Os mercados entenderam esse resultado como um forte obstáculo à governabilidade de eventual administração de Lula --um alento para investidores temerosos sobre a promessa de campanha do petista de abandonar a regra do teto de gastos caso seja eleito.
Apesar da reação positiva dos ativos brasileiros, o resultado do primeiro turno é prenúncio de uma segunda rodada disputada e deixou "claro que o próximo governo continuará a lidar com um Congresso muito fragmentado para avançar com uma agenda de reformas das políticas públicas", disse em nota a vice-presidente e analista sênior da Moody's, Samar Maziad.
Com o mercado doméstico focado em digerir o resultado do primeiro turno eleitoral, o comportamento do mercado externo ficava em segundo plano, mas ainda jogou a favor da queda da moeda norte-americana por aqui.
O índice do dólar frente a uma cesta de pares fortes caía 0,5% nesta manhã, com investidores ainda monitorando as sinalizações de política monetária dos principais bancos centrais e reagindo positivamente à reversão de um polêmico plano fiscal no Reino Unido.