Investing.com – A possível retomada no ciclo de aperto monetário brasileiro pode ajudar o real, que vem sendo afetado por preocupações fiscais, pressão de preços e expectativas inflacionárias desancoradas. Ainda que economistas consultados pelo Banco Central no último Boletim Focus tenham projetado que a Selic fique no patamar atual, em 10,5%, as curvas de juros indicam diferente, antecedendo um mini ciclo de maior restrição.
O mercado estima alta de 25 bps neste mês e cerca de 150 bps no total nos próximos seis meses, como aponta em relatório o grupo suíço Julius Baer, que ajustou sua projeção de três meses para o dólar frente ao real em R$5,30 e para doze meses para R$5,40.
“Embora uma alta versus uma pausa continue sendo uma aposta acirrada, o aperto monetário deve ajudar a conter a inflação e limitar a queda do real”, aponta Eirini Tsekeridou, analista de renda fixa do Julius Baer, ao recordar que a forte depreciação da moeda brasileira levou o Banco Central a uma intervenção no câmbio.
Dinâmica fiscal preocupa investidores, mas problemas não prejudicam dívida em moeda forte
Apesar das medidas anunciadas pela equipe econômica para o cumprimento do arcabouço fiscal, a percepção do mercado é de que pode não ser o suficiente para o equilíbrio das contas públicas. Entre as principais críticas, está a de que o ajuste ocorre mais do lado das receitas e não prioriza cortes de gastos mais incisivos.
A especialista do Julius Baer entende que a proposta orçamentária (PLOA) de 2025 enviada ao Congresso na semana passada parece “bastante otimista”. Ainda que o fluxo de notícias negativas tenha afetado o real e a dívida em moeda local, os problemas fiscais não prejudicam dívida em moeda forte, em sua visão.
“Os spreads da dívida em moeda forte do Brasil permanecem inalterados, apoiados por suas características de perfil de dívida”, destaca Tsekeridou. “A dívida denominada em moeda estrangeira do Brasil é uma fração (aproximadamente 4%) da dívida total e é mais de seis vezes coberta pelas reservas cambiais do Brasil. Finalmente, o longo vencimento médio da dívida externa do Brasil de cerca de sete anos dá à administração tempo para trabalhar na política fiscal, sem quaisquer pressões iminentes de vencimento”, completa a especialista.