Por Felix Light (B3:LIGT3) e Andrew Osborn
YEREVAN (Reuters) - O Azerbaijão disse nesta quarta-feira que suspendeu a ação militar na região separatista de Nagorno-Karabakh depois que as forças separatistas armênias concordaram com um cessar-fogo cujos termos sinalizavam que a área retornaria ao controle de Baku.
Sob o acordo, confirmado por ambos os lados e em vigor a partir das 13h (6h de Brasília) desta quarta-feira, as forças separatistas vão se dispersar e se desarmar, e as conversações sobre o futuro da região e dos armênios étnicos que vivem lá começarão na quinta-feira.
Karabakh, uma área montanhosa na volátil região do Sul do Cáucaso, é internacionalmente reconhecida como território do Azerbaijão, mas parte dela tem sido administrada por autoridades separatistas armênias que chamam a região de sua pátria ancestral.
Com medo do que o futuro reserva, milhares de armênios concentraram-se no aeroporto de Stepanakert, capital de Karabakh, conhecida como Khankendi pelo Azerbaijão. Outros abrigaram-se com forças de manutenção da paz russas.
O Azerbaijão, que enviou tropas apoiadas por ataques de artilharia para Karabakh na terça-feira para controlar a região separatista, diz que planeia integrar os 120 mil armênios étnicos da região e que os seus direitos serão protegidos pela constituição.
Mas alguns armênios - dado que a região esteve no centro de duas guerras desde a queda soviética em 1991 - estão céticos e a vizinha Armênia acusou o Azerbaijão de tentar limpar etnicamente o território, algo que Baku nega.
"Eles estão basicamente nos dizendo que precisamos sair, não ficar aqui, ou aceitar que isso faz parte do Azerbaijão - esta é basicamente uma típica operação de limpeza étnica", disse à Reuters Ruben Vardanyan, ex-autoridade graduada da administração étnica armênia de Karabakh.
Ele afirmou que cerca de 100 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas nos combates. A Reuters não conseguiu verificar esse dado.
O resultado, uma vitória militar para o Azerbaijão apoiado pela Turquia, cujas forças superavam em muito o número dos separatistas, pode causar turbulência política na vizinha Armênia, onde algumas forças políticas estão irritadas porque Yerevan não foi capaz de fazer mais para proteger os armênios de Karabakh.
O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, já enfrentava apelos na quarta-feira de alguns oponentes para renunciar.
Alguns armênios também estão furiosos porque a Rússia, que tem forças de manutenção da paz no terreno e ajudou a mediar um acordo de cessar-fogo anterior em 2020, após uma guerra de 44 dias, não conseguiu deter o Azerbaijão. O Kremlin rejeitou as críticas nesta quarta-feira.
Os separatistas que comandam a autodenominada "República de Artsakh" disseram que foram forçados a concordar com os termos do Azerbaijão - transmitidos pelas forças de paz russas - depois que o Exército de Baku rompeu suas linhas e tomou vários locais estratégicos enquanto o mundo não fazia nada.
"As autoridades da República de Artsakh aceitam a proposta do comando do contingente russo de manutenção da paz para cessar fogo", disseram em um comunicado.
O Azerbaijão afirmou que não podia mais tolerar uma situação que considerava uma ameaça à sua segurança e soberania territorial.
(Por Andrew Osborn em Londres e Guy Faulconbridge em Moscou)