Com taxas de juros mais elevadas, o investidor tem um amplo leque de opções em renda fixa – e um dos aumentos de aplicações nesse segmento foi o de títulos emitidos por bancos, os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). De acordo com dados da B3 (BVMF:B3SA3), a bolsa de valores brasileira, nos últimos 12 meses finalizados no segundo trimestre, o país contava com 8,7 milhões de investidores Pessoa Física em CDBs, com saldo de R$ 562,8 bilhões e saldo mediano de R$ 7,7 mil. Em relação ao final de 2021, houve um aumento de 1,5 milhão de investidores pessoa física (+21%) nesse tipo de ativo.
Nesse cenário, o investidor se depara com muitos CDBs que garantem um rendimento de 150, 200, 250 e até 400% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Mas quais os riscos e armadilhas desses valores oferecidos?
O CDB tem um conceito simples - emprestar o dinheiro para um banco e receber uma rentabilidade sobre esse dinheiro em troca. No entanto, a configuração dos parâmetros de risco, prazo e liquidez diferenciam um CDB de outro. De acordo com Luiz Cesta, head de análise na Monett, o parâmetro de risco é dividido em dois aspectos:
1 - O não pagamento. Por qualquer motivo, se o banco não tiver dinheiro no momento do pagamento, o investidor pode não receber o dinheiro.
2 - Risco de taxa de juros. Caso o CDB tiver um indicador pré-fixado, se a taxa de juros subir de maneira não esperada, o investidor deixa de ganhar o dinheiro adicional que teria se tivesse escolhido outra aplicação.
O head de análise na Monett aponta que os CDBs também se diferenciam pelo prazo. “Alguns CDBs possuem liquidez diária, o que significa que você pode sacar a qualquer momento, e outros possuem liquidez em prazos maiores. É comum você encontrar CDB com prazo para resgate em 1, 2, 3 anos e então você só terá o dinheiro de volta com a remuneração nesse prazo”, alerta. “Em alguns casos você até consegue seu dinheiro de volta se quiser sacar um CDB antes do prazo do vencimento, mas você vai provavelmente tomar um deságio bem grande e isso praticamente inviabiliza ficar fazendo esse procedimento sempre”, completa.
Taxa de retorno
O parâmetro taxa de retorno de um CDB pode ser pré-fixado, pós-fixado ou híbrido. No caso, da taxa ser pré-fixada, o banco determina uma taxa, mantida até o final – como 12% ao ano, por exemplo. Outra forma de remuneração é a pós-fixada, quando a maior referência seria um valor percentual do CDI. Segundo Cesta, são comuns taxas entre 100% do CDI, 102% do CDI, dependendo do emissor do CDB e do prazo do vencimento. “E tem também o CDB híbrido, que é um conjunto de índices e taxas que vão dar a rentabilidade final. Um exemplo seria um CDB que paga CDI + 2% ou um CDB que paga Inflação ou IPCA mais uma taxa pré-fixada”, completa.
Por isso, antes de confirmar uma aplicação, o investidor precisa ficar atento ao prazo de vencimento e se há liquidez diária, além da rentabilidade oferecida, para não cair em nenhuma armadilha, pois, para um pagamento acima do habitual, é possível que ele precise ficar com o ativo até o vencimento. Além disso, no caso de investimentos de curto prazo, o percentual oferecido pode ser maior, mas o imposto a ser pago é também mais elevado.
O que é o CDI?
O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) é um título emitido por instituições financeiras, para transferência de recursos entre elas, em modalidade de curtíssimo prazo. O head de análise na Monett detalha que o CDI nada mais é do que uma referência que os CDBs usam como indexador para reajuste do valor. “Esse indicador refere-se à média das taxas que os bancos emprestam um para o outro. Daí o termo CDI que é Certificado de Depósito Interbancário. O CDI não é exatamente igual à taxa Selic, mas fica na maioria das vezes 0,1% abaixo dessa meta porque é a maneira que os bancos possuem de serem remunerados quando emprestam dinheiro entre si. Então, se a taxa Selic estiver em 13,75% ao ano, é bastante provável que o CDI esteja próximo de 13,65%”, explica.
Benefícios dos CDBs
Para Cesta, entre os atrativos do CDB está a simplicidade do produto. “É muitíssimo simples operacionalizar esse investimento. Praticamente todos os bancos disponibilizam alguma forma digital de fazer isso diretamente pelo app do banco ou, se quiser, diretamente com sua gerente”, avalia.
Outro atrativo é a existência do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O fundo é abastecido com recursos dos próprios bancos, garantindo que, em caso de falência do banco, o investidor receberá até o valor de R$ 250 mil do que investiu. Ou seja, é possível ter o dinheiro de volta em até R$ 1 milhão de reais, desde que o investidor não tenha mais do que R$ 250 mil em cada banco.
De acordo com o especialista, essa dinâmica da garantia favorece o pequeno investidor, que pode investir em CDBs de bancos menos conhecidos, garantir taxas maiores, e mesmo assim ter uma garantia do FGC para ficar mais tranquilo em colocar o dinheiro em um banco com maior probabilidade de ficar insolvente.
Desvantagens
Entre as desvantagens, devido à cobertura do FGC para garantir o depósito, não é tão simples achar taxas gordas nesse produto financeiro, segundo o especialista - embora algumas instituições são mais generosas nesse sentido.
Outro fator é a incidência de imposto de renda na rentabilidade. Embora exista essa cobrança, ela é retida no forte, então não fornece trabalho adicional para o investidor, como o pagamento das DARFs necessárias em investimentos em ações, dependendo do valor.
“Considere sim um CDB para seus investimentos, especialmente se você achar um com taxa alta e fique dentro dos parâmetros para ter a garantia do FGC”, completa Cesta.