Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, determinou o afastamento de Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato de senador, mas rejeitou um pedido de prisão do parlamentar apresentado pela Procuradoria-Geral da República, em inquérito que tramita no STF a partir de novas provas obtidas na investigação, disseram fontes com conhecimento das decisões nesta quinta-feira.
O afastamento de Aécio, que é o presidente do PSDB, foi determinado depois que o senador foi gravado pedindo 2 milhões de reais ao empresário Joesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS (SA:JBSS3). A revelação foi feita pelo jornal O Globo na quarta-feira e confirmada à Reuters por três fontes.
Aécio foi alvo nesta quinta-feira de operação da Polícia Federal que cumpriu mandados de busca e apreensão em diversos endereços ligados a ele no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, além de seu gabinete no Congresso Nacional.
A Procuradoria-Geral da República chegou a pedir a prisão do senador, mas o ministro Fachin não acatou, de acordo com uma fonte. Mais cedo uma outra fonte havia dito à Reuters que o ministro do STF havia decidido encaminhar ao plenário do Supremo o pedido de prisão apresentado pela PGR contra Aécio.
Agentes da PF estiveram no início da manhã em um prédio de frente para a praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, onde Aécio tem um apartamento, e também em endereços do senador em Minas Gerais, incluindo uma casa e um apartamento.
A Polícia Federal também cumpriu mandados nesta manhã no Congresso Nacional, onde faz buscas nos gabinetes de Aécio, do também senador Zezé Perrela (PMDB-MG) e do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), segundo uma fonte.
A irmã e assessora de Aécio, Andrea Neves, foi alvo de pedido de prisão, de acordo com a fonte, que acrescentou que um ex-assessor do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) também está entre os alvos da ação no Rio de Janeiro.
Agentes da PF realizaram ainda buscas no gabinete da Procuradoria-Geral Eleitoral, que fica no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o STF decretou a prisão de um procurador da República que atua perante a Corte.
Sem identificar os alvos, a Polícia Federal informou em comunicado que o STF expediu mandados judiciais a serem cumpridos nesta quinta, sendo 41 de busca e apreensão e 8 de prisão preventiva no Estados de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão, além do Distrito Federal.
"As buscas ocorrem na residência de investigados, em seus endereços funcionais, em escritórios de advocacia e órgãos públicos. O objetivo das medidas é coletar provas de corrupção e crimes contra a administração pública, entre outros crimes, nas investigações que tramitam no STF", disse a PF em nota.
Segundo reportagem do jornal O Globo de quarta-feira, confirmada pela Reuters com três fontes com conhecimento do assunto, o empresário Joesley Batista gravou um pedido de dinheiro de Aécio e a cena foi filmada pela Polícia Federal.
Aécio, que até recentemente era apontado como possível candidato à Presidência nas eleições de 2018, já teve o nome mencionado em delações da Lava Jato e tem perdido força quando se trata da disputa nacional, o que deve se agravar com a nova ação.
Em nota sobre a reportagem, o senador disse estar "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos" e afirmou que sua relação com o empresário era "estritamente pessoal".
A reportagem de O Globo também afirma que Joesley Batista gravou uma conversa com o presidente Michel Temer em que o presidente dá aval para a compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha. Na conversa, Temer também indica, segundo o jornal, ao empresário o deputado Rocha Loures para resolver um assunto da J&F, holding que controla a JBS.
Loures, de acordo com o jornal, foi filmado recebendo 500 mil reais enviados por Joesley. Em nota, a assessoria do deputado disse que ele estava fora do país e que, quando retornar, o que deve acontecer nesta quinta-feira, "deverá se inteirar e esclarecer os fatos divulgados".
Temer, também em nota, negou que tenha pedido o pagamento para conseguir o silêncio de Cunha ou tenha autorizado qualquer movimento nesse sentido. "O presidente jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar", disse a assessoria de imprensa da Presidência.
(Reportagem adicional e texto de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)