Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Sob o argumento de ajudar a Câmara a retomar um papel de protagonismo, e após pressão inclusive de aliados, o deputado suspenso Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renunciou à presidência da Casa nesta quinta-feira e deu largada à disputa pelo posto, que deve ser preenchido em até cinco sessões da Casa.
Em declaração lida em coletiva convocada às pressas e em alguns momentos com a voz embargada, Cunha se disse alvo de perseguição por ter aceito o pedido de abertura de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff, e afirmou ter orgulho do feito.
"É público e notório que a Casa esta acéfala, fruto de uma interinidade bizarra, que não condiz com o que o país espera de um novo tempo após o afastamento da presidente da República. Somente a minha renúncia poderá por fim a essa instabilidade sem prazo. A Câmara não suportará esperar indefinidamente", disse em declaração a jornalistas.
Desde o afastamento do parlamentar, em maio, a presidência da Câmara tem sido exercida interinamente pelo primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA).
O deputado tem trazido problemas ao governo do presidente interino Michel Temer com suas idas e vindas em decisões sobre a pauta da Câmara e atrasado a votações de matérias consideradas prioritárias pelo Planalto.
Maranhão foi o responsável, por exemplo, pelo cancelamento das sessões deliberativas da Câmara na última semana, paralisando os trabalhos da Casa.
Ao anunciar a renúncia, Cunha afirmou sofrer com a “seletividade do órgão acusador”, estabelecendo uma ligação entre as ações da Procuradoria-Geral da República contra ele e o fato de ter aceito o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
“Estou pagando um alto preço por ter dado início ao impeachment. Não tenho dúvidas, inclusive, de que a principal causa do meu afastamento reside na condução desse processo”, disse o desafeto da petista.
Cunha é alvo de um processo que pede a cassação de seu mandato parlamentar e é réu em duas ações penais ligadas à Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar reiterou que não recebeu nenhuma vantagem indevida de ninguém, negando denúncias de pagamento de propina.
Agora, após a renúncia, uma nova eleição para o comando da Casa terá de ser realizada pelos deputados.
CORRIDA MALUCA
Com a renúncia de Cunha, passa a contar o prazo de até cinco sessões da Câmara para a realização de eleição para a Presidência da Casa. Mas mais do que isso, a desistência do parlamentar deve abrir uma frente de conflito na base do presidente interino Michel Temer, com uma disputa pela Presidência da Câmara entre mais de dez nomes dos três grupos de sustentação do governo: o chamado centrão, a antiga oposição --formada por PSDB, DEM e PPS-- e o PMDB, maior bancada da Casa.
Por isso mesmo, poucos minutos após o discurso emocionado de renúncia, a base governista na Câmara já era mobilizada para discutir, ainda nesta quinta, a sucessão da Presidência da Casa. Líderes que já haviam deixado a capital mudaram sua rota e preparam-se para um fim de semana de intensas negociações.
Maranhão marcou para o próximo dia 14 a eleição do novo presidente da Casa. O governo alimenta a expectativa de resolver a questão o quanto antes.
O líder da bancada governista na Casa chegou a dizer que “se for possível” fazer a eleição do novo presidente na segunda-feira “melhor ainda”. O problema, admitem aliados, é chegar a um nome de consenso e evitar que a disputa deixe sequelas na já heterogênea base.
“É óbvio que nós torcemos, sem o envolvimento direto do governo, para ter uma candidatura única”, disse Moura a jornalistas, acrescentando que o ideal seria um perfil “conciliador” e que desse agilidade às votações da Câmara.
O líder do governo negou ainda que haja qualquer acordo para salvar o mandato parlamentar de Cunha.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões)