BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff manifestou nesta sexta-feira seu "integral inconformismo" com a condução coercitiva para prestar depoimento sofrida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na nova fase da operação Lava Jato.
Dilma classificou em nota a medida como "desnecessária", lembrou que Lula já foi "por várias vezes" prestar esclarecimentos às autoridades de forma espontânea e defendeu que o respeito aos direitos individuais pressupõe a adoção de medidas proporcionais que "que jamais impliquem em providências mais gravosas do que as necessárias para o esclarecimento de fatos".
Lula foi o principal alvo da 24ª fase da Lava Jato, sob suspeita de ser beneficiário de crimes de corrupção envolvendo a Petrobras (SA:PETR4). Cerca de 200 policiais e 30 auditores da Receita Federal cumpriram mais de 30 mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva, incluindo o do ex-presidente em São Bernardo de Campo (SP), de acordo com a PF.
Após a divulgação da nota, Dilma também fez um pronunciamento no Palácio do Planalto em que reiterou seu inconformismo com a condução coercitiva sofrida por Lula e rebateu pontos da suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, divulgada na quinta-feira pela revista IstoÉ.
"Acredito ser lamentável que ocorra ilegalmente o vazamento de uma hipotética delação premiada, que, se chegou a ser feita, teve como motivo único a tentativa de atingir a minha pessoa e o meu governo, provavelmente pelo desejo de vingança, pelo imoral e mesquinho desejo de vingança, e de retaliação, a quem não defendeu quem não poderia ser defendido pelos atos que praticou", disse a presidente.
Na suposta delação, que o senador disse por meio de nota não confirmar, Delcídio teria acusado Dilma de buscar nomear ministros para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) comprometidos em soltar empresários presos pela Lava Jato e de tentar junto ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, interferir na Lava Jato.
Delcídio teria afirmado, ainda segundo a revista, que Dilma saberia de irregularidades envolvendo a compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras.
A presidente rejeitou todas as acusações.
Delcídio foi preso em novembro do ano passado acusado de tentar interferir nas investigações da Lava Jato, após aparecer em uma gravação oferecendo dinheiro, influência política junto ao Judiciário e até uma rota de fuga para beneficiar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró em troca do silêncio dele nas investigações.
O parlamentar, que está de licença médica do Senado, teve sua filiação ao PT suspensa.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)