Por Alonso Soto e Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro deve fixar a meta de resultado primário para o próximo ano em um déficit de cerca de 150 bilhões de reais, em meio a uma recessão que reduz a receita, disse uma fonte do governo à Reuters nesta quinta-feira.
O grande déficit levanta questões sobre a austeridade do governo do presidente interino Michel Temer e de sua equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
"É difícil reduzir muito o déficit e 150 bilhões de reais é o melhor número por enquanto", disse a fonte do governo, que pediu para não ser identificada.
Mais cedo, Meirelles disse que o governo tem como objetivo reduzir o déficit primário em relação ao rombo recorde de 170,5 bilhões de reais previsto para este ano, mas reconheceu que deve ficar acima de 100 bilhões de reais.
"Certamente (o primário de 2017) será um número negativo, existe estimativa que possa ser superior a 100 bilhões de reais, mas isso já mostra trajetória declinante", disse Meirelles em entrevista coletiva.
Ele afirmou que os cálculos que estão sendo feitos para a meta fiscal de 2017 já consideram a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior, texto que ainda segue em tramitação inicial no Congresso Nacional.
"O discurso de austeridade de Temer ainda não se transformou em realidade e isso deve prejudicar a credibilidade do seu governo e de Meirelles", disse Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Agostini disse que um grande déficit permite que Temer marque pontos políticos, aumentando os gastos em programas governamentais populares e que garantem votos no Congresso.
A assessoria do Ministério da Fazenda não pode ser imediatamente contatado para comentar o assunto.
LDO
Segundo Meirelles, a nova meta fiscal para 2017 deverá ser anunciada na próxima semana.
Por enquanto, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que está no Legislativo conta com os números antigos, enviados pela presidente afastada Dilma Rousseff, e que preveem um déficit primário de até 65 bilhões de reais para o ano que vem.
O ministro da Fazenda disse que tentativas de variações abruptas na trajetória de despesas públicas foram malsucedidas no passado, e que o governo está trabalhando com estimativas realistas.
Ele defendeu que os aumentos concedidos a servidores públicos são consistentes com a proposta de teto para o aumento de gastos.
Questionado sobre a proposta de reforma da Previdência, Meirelles afirmou que não há preocupação com calendário eleitoral e que o texto será apresentado ao Congresso quando tiver sido estruturado.