Lula criticava Campos Neto por juros e agora poupa Galípolo

Publicado 20.06.2025, 08:05
© Reuters Lula criticava Campos Neto por juros e agora poupa Galípolo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um discurso crítico ao Banco Central ao longo de 2023 e 2024. O chefe do órgão naqueles anos era Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL).

O cenário mudou. Presidente do BC em 2025, o economista Gabriel Galípolo, que foi secretário-executivo do ministro Fernando Haddad (Fazenda), foi escolhido por Lula para o cargo. A nova gestão fez o petista abandonar o tom duro contra a autoridade monetária.

As críticas do petista eram especialmente por causa dos juros elevados. A taxa básica (Selic) estava em 13,75% ao ano quando ele começou o 3º mandato.

Ocorre que o indicador continua subindo em 2025. Está em 15% ao ano, maior patamar em 19 anos. Apesar disso, Lula continua sem criticar o Banco Central como fazia nos anos anteriores.

Lula costumava acusar Campos Neto de ser “contra” a economia. Pressionava-o por reduções nos juros. Para não citar nomes, chamava-o de “esse cidadão”.

O BC é responsável por definir o juro base. O objetivo das alíquotas elevadas é controlar a inflação por meio da desaceleração econômica (entenda mais aqui).

Os diretores e presidente da autoridade monetária definem o novo patamar dos juros 8 vezes ao ano. Relembre abaixo alguns comentários do presidente da República em datas próximas às reuniões do órgão em 2023 e 2024:

Fevereiro de 2023:

  • decisão do BC (1º.fev) – manteve Selic a 13,75%;
  • Lula (6.fev) – “É só ver a carta do Copom [Comitê de Política Monetária] para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que deram para a sociedade brasileira”.

Março de 2023:

  • decisão do BC (22.mar) – manteve Selic a 13,75%;
  • Lula (23.mar) – “Eu como presidente da República eu não posso ficar discutindo todo relatório do Copom, eu não posso. Eles paguem o preço pelo que eles estão fazendo. A história julgará cada um de nós”.

Maio de 2023:

  • decisão do BC (3.mai) – manteve Selic a 13,75%;
  • Lula (6.mai) – “Ele [Campos Neto] não tem nenhum compromisso comigo. Ele tem um compromisso com quem? Com o Brasil? Não tem. Ele tem compromisso com o outro governo, que o indicou. Isso é importante ficar claro”.

Junho de 2023:

  • decisão do BC (21.jun) – manteve Selic a 13,75%;
  • Lula (22.jun) – “Acho que esse cidadão [Campos Neto] joga contra a economia brasileira. Ele não tem explicação aceitável porque a taxa de juros está a 13,75% ao ano. Não temos inflação de demanda”.

Agosto de 2023:

  • decisão do BC (2.ago) – baixa Selic para 13,25%;
  • Lula (2.ago, antes da decisão) – “Acontece que esse rapaz do Banco Central, não sei do que ele entende, mas me parece que ele não entende de Brasil e não entende de povo”.

Setembro de 2023:

  • decisão do BC (20.set) – baixa Selic para 12,75%;
  • Lula (27.set) – encontrou-se com Campos Neto.

Dezembro de 2023:

  • decisão do BC (13.dez) – baixa Selic para 11,75%;
  • Lula (12.dez) – “Temos que mexer com o coração do presidente do Banco Central. Reduz um pouco os juros que as pessoas estão querendo tomar dinheiro emprestado. Os governadores podem ajudar, fazer pressão. Vamos baixar o juro, gente”.

Março de 2024:

  • decisão do BC (20.mar) – baixa Selic para 10,75%;
  • Lula (11.mar) – “Não existe nenhuma explicação econômica, nenhuma explicação inflacionária. Não existe nada a não ser a teimosia do presidente do Banco Central em manter essa taxa de juros”.

Junho de 2024:

  • decisão do BC (19.jun) – manteve Selic em 10,5%;
  • Lula (21.jun) – “Ele [Campos Neto] foi indicado pelo governo anterior e faz questão de demonstrar que não está preocupado com nossa governança, mas com quem ele se comprometeu. Estamos chegando ao momento de trocar o presidente do Banco Central. Vamos ter que tirar ele, indicar outras pessoas”.

Além das críticas em discursos e entrevistas, Lula comentava os juros em seu perfil oficial do X (ex-Twitter). Em 2023 e 2024, o tom costumava ser crítico. Leia um compilado de postagens do presidente:

Ao fazer buscas nas redes sociais pelos perfis do petista por termos como “juros”, “taxas de juros”, “Banco Central” e “Selic”, percebe-se que não há postagens críticas à política monetária do país em 2025.

LULA & GALÍPOLO

O presidente não só baixou o tom depois que indicou Galípolo para o Banco Central, mas também já elogiou o economista algumas vezes. Leia abaixo:

  • ago.2024 – “Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar ‘tem que aumentar os juros’, ótimo. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima”;
  • jan.2025 – “O presidente do BC não pode dar um cavalo de pau de uma hora para a outra. Já estava praticamente demarcado a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [Campos Neto]”;
  • 12 de fev. de 2025 – “Nós temos que ir ajustando as coisas e eu tenho certeza que o Gabriel Galípolo vai consertar a taxa de juros nesse país”.

Havia um receio do mercado financeiro de que Galípolo fosse mais tolerante com a inflação alta e atendesse aos pedidos de Lula para baixar os juros. Ele buscou dissipar o temor desde que foi indicado ao cargo. Deu declarações de que a taxa ficaria elevada pelo tempo necessário.

O petista e o economista publicaram um vídeo descontraído em 20 de dezembro. Nele, Lula diz que não vai interferir no trabalho do Banco Central. A declaração amenizou a cotação do dólar naquele dia.

“Queria desejar boa sorte, que Deus te abençoe. E quero que você saiba que jamais haverá da parte da Presidência qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central”, disse o petista faltando poucos dias para Galípolo assumir o novo cargo.

Assista (2min24s):

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