Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O medo da pulverização das candidaturas de centro-direita levou um grupo de partidos a tentar uma negociação prévia para organizar desde agora uma frente única, mesmo que sem definir a cabeça de chapa, mas as intenções fracassaram, barradas por interesses pessoais, partidários e uma generalizada falta de vontade de ceder espaços.
Iniciada pelo presidente de um dos partidos envolvidos, a articulação começou há cerca de duas semanas. "Conversei com DEM, com Solidariedade, com Podemos, com PR, com PP. Minha ideia era que a gente sentasse e dissesse desde já 'estamos juntos e quem estiver na frente em julho vai ter a cabeça de chapa', mas não deu certo", contou a fonte. "Ninguém quer abrir mão de nada agora".
As negociações tiveram o aval do presidente Michel Temer, que chegou a dizer em entrevistas, na semana passada, que abriria mão de uma suposta candidatura pessoal em prol de um acordo. Em fala à emissora de TV estatal NBR, o presidente chegou a dizer que as várias candidaturas não eram "úteis" e confundiam o eleitor.
Esta semana, Temer já mudou de tom. Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o presidente admitiu que a candidatura única não prospera e é muito difícil haver um candidato único de centro-direita.
"Com o passar do tempo, fica cada vez mais difícil essa composição", admitiu à Reuters o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, um ardoroso defensor, há meses, de um candidato único da base do governo. "Até agora não se tem motivo nenhum para se imaginar a consolidação dessa ideia."
Até agora, têm avançado as tratativas com vistas a um acordo entre o Podemos, que lançou o senador Álvaro Dias como pré-candidato, e o PRB, que apresentou a candidatura do empresário Flávio Rocha, dono da rede de varejo Riachuelo (SA:GUAR3).
Dias admitiu em entrevista à Reuters que concordaria com a ideia de ceder a cabeça de chapa a quem estiver mais bem colocado na corrida presidencial. "Estamos dispostos a conversar e entendendo que esse é um critério válido", disse o senador à Reuters.
Entre os supostos pré-candidatos que poderiam entrar nessa negociação, Dias tem a posição mais confortável, já que é hoje o mais bem colocado nas pesquisas, com exceção de Geraldo Alckmin (PSDB). O senador, no entanto, não admite fazer alianças nem com os tucanos, nem com o MDB, o que já elimina uma parte razoável dos possíveis acordos.
"Não é possível fazer uma aliança com PSDB ou MDB. São mais do mesmo, exatamente o contrário do que estamos pregando", defendeu o senador.
Mais bem posicionado nas pesquisa, Alckmin seria o nome natural para unir o campo da centro-direita mas, apesar de recentes tentativas de Temer em se aproximas do tucano, as conversas não prosperaram.
"Não tem conversa hoje. Nas últimas reuniões deu para tirar o pulso do partido e não tem aliança com o PSDB. O DEM está mais preocupado em não perder um eventual lugar de vice numa chapa com Alckmin", disse à Reuters uma fonte palaciana.
Um dos tucanos mais próximos a Temer, o ex-presidente do partido e suplente de senador José Aníbal (SP) trabalha ainda para tentar aproximar o presidente de Alckmin e, mais otimista, defende que é necessário uma convergência entre os partidos que gravitam em torno do atual governo.
"Se isso vai ocorrer, eu não sei. Mas acho que é muito provável", afirmou ele, ao ressalvar que ainda é muito cedo para que haja um acordo entre as legendas. Aníbal defende que Alckmin tem um "potencial grande de crescimento", ao contrário de outros pré-candidatos.
O presidente do PTB, Roberto Jefferson, afirmou que não tem participado de conversas de partidos do chamado centro para tentar fechar uma candidatura única, mas defende que o ex-governador paulista seja o nome do centro ao Planalto e cobra do tucano que atue para vencer essas resistências dos demais aliados até julho.
Jefferson afirma que Alckmin é o candidato mais viável e os demais postulantes estão criando "dificuldades" para depois negociar. Questionado sobre o fato de o tucano não empolgar potenciais aliados, o presidente do PTB disse que o centro é "morno mesmo".
A intenção de Temer de apoiar um candidato que defenda o que chama de "seu legado" também dificulta a formação de uma frente. Nenhum dos pré-candidatos se anima com essa missão, com exceção do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que estaria, na verdade, defendendo suas próprias medidas econômicas.
"Ninguém vai defender legado nenhum, não tem isso. Alckmin não defendeu Fernando Henrique, que é até hoje um deus do partido, vai defender o governo? Só Meirelles, que pode usar as medidas econômicas como credencial."
No entanto, a candidatura própria dentro do MDB já não seria mais consenso. O presidente do partido, Romero Jucá (RR), já admitiu que o MDB pode desistir de lançar candidato. Em conversas com deputados, já há algumas semanas, a Reuters mostrou que vários preferiam que o partido ficasse independente, facilitando as alianças locais.
Marun diz que isso é um movimento de uma ala "derrotista" do partido. "Tem um movimento, mas é uma ala minoritária", garante. "O MDB tem uma questão fechada que é a de ter candidato próprio".
(Reportagem adicional de Ricardo Brito)