Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que executivos da J&F omitiram gravações no acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal e que esses áudios foram enviados ao exterior.
A afirmação aparece no pedido de prisão temporária de Joesley Batista, Ricardo Saud e também do advogado e ex-procurador Marcello Miller apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira.
"Há, ainda, referências a outras gravações, inclusive uma relativa à conversa com José Eduardo Cardozo (ex-ministro e advogado), que não apenas deixaram de ser entregues ao Ministério Publico Federal como foram levadas ao exterior, em aparente tentativa de ocultação dos arquivos das autoridades pátrias, o que reforça o intento de omitir alguns fatos, após a orientação de Marcello Miller", diz Janot no pedido remetido ao STF, ao qual a Reuters teve acesso.
Para Janot, a gravação da conversa entre Joesley e Saud leva à conclusão de que Miller vinha auxiliando os colaboradores antes de se desligar do Ministério Público Federal (MPF). O ministro Edson Fachin, do STF, determinou a prisão temporária dos dois executivos da J&F, contudo, rejeitou a de Miller.
EMAILS
No pedido, o procurador-geral relata que o escritório de advocacia Trench, Rossi (SA:RSID3) e Watanabe --para o qual Miller foi trabalhar após deixar o MPF-- encaminhou um material referente à investigação interna sobre o episódio.
Segundo Janot, os documentos apresentados pela banca mostram que, antes de março, Miller já auxiliava o grupo no acordo de leniência com o MPF. "Há, por exemplo, trocas de emails entre Marcello Miller e advogada do mencionado escritório, em época em que ainda ocupava o cargo de procurador da Republica, com marcações de voos para reuniões, referências a orientações à empresa J&F e inícios de tratativas em benefícios à mencionada empresa", disse o chefe do MPF, numa menção também à advogada Fernanda Tórtima.
O procurador-geral também menciona no pedido de prisão depoimento de Ricardo Saud no procedimento de revisão da delação no qual o executivo admitiu a Miller ter tido uma conversa com o advogado e ex-ministro José Eduardo Cardozo. Saud revelou ter gravado Cardozo e que Miller disse que ele "pararia na cadeia" se isso fosse verdade. Essa conversa dele com o ex-ministro, disse Janot, é um dos áudios que não foi incluído na delação.
"[Saud afirmou] que disse a Marcello Miller que gravaria o [senador] Ciro Nogueira (...); que disse a Marcello Miller que gravou José Eduardo Cardozo; (...) que Marcello Miller disse que aquilo daria cadeia, que iriam para cima dele, depoente, e José Eduardo Cardozo; que depois dessa conversa Marcello Miller saiu da sala e estava mandando mensagens no celular; que achou isso estranho, o fato de mandar mensagens logo após essa conversa; que não mostrou a gravação de José Eduardo Cardozo a Marcello Miller, apenas mostrou um pen drive", diz trecho do pedido de Janot.