Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - A rejeição à presidente Dilma Rousseff teve um pequeno recuo em fevereiro, apesar da avaliação negativa sobre como a presidente tem lidado com a forte recessão econômica e do apoio da maioria da população ao impeachment, mostrou pesquisa CNT/MDA nesta quarta-feira.
O levantamento, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), apontou que a avaliação ruim/péssima do governo passou para 62,4 por cento, ante 70,0 por cento em outubro. Na outra ponta, agora 11,4 por cento avaliam o governo como ótimo ou bom, ante 8,8 por cento na pesquisa anterior. Os que avaliaram o governo como "regular" somam 25,2 por cento, ante 20,4 em outubro.
Ao mesmo tempo, também houve melhora na avaliação do desempenho pessoal da presidente. Se em outubro do ano passado, 80,7 por cento dos entrevistados desaprovavam Dilma, essa parcela passou a 73,9 por cento em fevereiro. O percentual de aprovação subiu de 15,9 em outubro para 21,8 neste mês.
"Essa questão da melhora dos números, a gente tem que ver em um cenário recente onde ela atingiu números muito negativos (nas pesquisas anteriores), o caminho natural dela é dar um pique positivo para frente", afirmou o diretor-executivo do Instituto MDA, Marcelo Souza.
"Sempre que há um número muito forte negativo, a gente espera um repique positivo", explicou.
Segundo o presidente da CNT, Clésio Andrade, a alteração dos dados é "pequena" e não pode ser considerada uma "melhora", mas uma "variação favorável".
Para ele, a movimentação da presidente Dilma nos últimos dias para combater o Zika vírus, incluindo a assinatura de convênio com os Estados Unidos para a busca de uma vacina contra a doença, pode ter influenciado na variação apresentada nesta quarta-feira.
Ainda assim, 79,3 por cento dos entrevistados consideram que Dilma não está sabendo lidar com a crise econômica, que tem aumentado fortemente o desemprego num ambiente de inflação elevada.
LAVA JATO
Outro fator que também contribui para a ainda elevada rejeição de Dilma é como a população vê sua suposta participação no esquema investigado pela operação Lava Jato, que apura corrupção envolvendo a Petrobras (SA:PETR4), órgãos públicos, empreiteiras e políticos.
Segundo a pesquisa, 88,6 por cento têm acompanhado ou ouviram falar das investigações da Lava Jato. Nesse grupo, 67,8 por cento consideram Dilma culpada pela corrupção investigada.
A sondagem mostra ainda que 55,6 por cento são favoráveis ao impeachment, enquanto 40,3 por cento são contrários ao afastamento da presidente, que é alvo de um pedido de abertura de processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
Em julho do ano passado, última vez que a pergunta foi feita aos entrevistados pelo instituto, 62,8 por cento se diziam favoráveis ao impedimento da presidente, enquanto 32,1 por cento posicionavam-se contrários.
Ainda sobre a Lava Jato, a pesquisa mostra que a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também está sendo fortemente abalada pela operação. Entre os que acompanham as investigações, 70,3 por cento veem Lula como culpado de corrupção.
Para a pesquisa foram ouvidas 2.002 pessoas entre os dias 18 e 21 de fevereiro, em 137 municípios do país. A margem de erro do levantamento é de 2,2 pontos percentuais.
A sondagem foi encerrada antes da última fase da operação Lava Jato, que resultou na decretação de um pedido de prisão do marqueteiro João Santana, que trabalhou nas duas campanhas de Dilma e na reeleição de Lula.
ELEIÇÕES
A pesquisa perguntou ainda, em um cenário de intenção de voto estimulada para presidente da República, em quem o entrevistado votaria se as eleições fossem hoje.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) ficaria em primeiro lugar, com 24,6 por cento, à frente de Lula, com 19,1 por cento, e da ex-senadora Marina Silva (Rede), com 14,7 por cento, seguida pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), com 6,1 por cento, e do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), com 5,8 por cento.
Nos cenários em que os candidatos do PSDB são o senador José Serra e o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, Lula lidera a disputa com 19,7 por cento nos dois casos.
Nas simulações de segundo turno, o ex-presidente perderia em todos os cenários, tanto para Aécio quanto para Ciro e Marina.
O senador mineiro fica na frente nos cenários de segundo turno contra Lula, Ciro e Marina.