Sidney Shapiro e Alessandro Strauss, cidadãos brasileiros que moram em Israel, afirmaram que a guerra entre Israel e Hamas causou um sentimento de angústia e maior preocupação entre a população israelense com a segurança. Ambos residem em Ra’anana, cidade a cerca de 20 km ao norte de Tel Aviv.
Segundo os brasileiros, sirenes de alerta soam de 3 a 4 vezes, em média, na região. “Temos 1 minuto e 30 segundos para chegar a um bunker”, contou Shapiro ao Poder360, citando as fortificações contra mísseis e disparos que fazem parte da infraestrutura de defesa israelense. No sul do país, mais perto da Faixa de Gaza, o tempo para a população se proteger no abrigo é menor: 15 segundos.
“Das vezes que tocou a sirene aqui em Ra’anana, a minha mulher estava na rua em duas ocasiões. Uma vez no cabeleireiro e outra no supermercado. Em pouco tempo, ela estava se abrigando em um bunker no prédio ao lado ou no próprio supermercado”, continuou Shapiro.
Reprodução/Arquivo pessoal O brasileiro Sidney Shapiro na cidade israelense de Haifa em janeiro de 2023. Ele mora em Israel há 7 anos O médico ortopedista, de 62 anos, mora em Israel há 7 anos. Ele afirma que a atual situação no país “lembra” da época de isolamento estabelecido pela pandemia de covid-19. “O governo pede para que quem não está trabalhando em serviços básicos continue em suas casas ou em uma região de maior segurança”, disse. Por ser médico, Shapiro continua a ir para o trabalho normalmente.
Já o administrador de empresas, Alessandro Strauss, 50 anos, contou ao jornal digital que está trabalhando de casa desde o conflito iniciado em 7 de outubro. Ele reside em Israel há 9 anos.
“Os primeiros dias foram difíceis [na questão de] conciliar trabalho e todo o acontecido. Você querer saber como está toda situação e os desdobramentos é uma coisa que mexe com cabeça”, afirmou.
O administrador disse ainda que tem reduzido suas saídas de casa. “Se estou andando na rua, sempre fico visualizando onde que posso me abrigar caso eu precise. É uma mudança drástica. […] Você tem que ter uma atenção muito maior com questão de segurança”, afirmou.
Reprodução/Arquivo pessoal O brasileiro Alessandro Strauss em uma brigaderia brasileira na cidade israelense de Ra’anana. Strauss mora em Israel há 9 anos Embora sinais de alerta sejam ouvidos de Ra’anana, a região não teve registros de destruição, segundo os entrevistados.
“[Os mísseis] não caem na maioria das vezes porque o Iron Dome os neutraliza no ar, mas tem que se abrigar porque [a proteção] não é 100% efetiva. Mesmo que [o míssil] atinja [o sistema], pode vir partes de ferro. Então tem que tomar cuidado da mesma forma”, falou Strauss, referindo-se ao Domo de Ferro, sistema israelense para abater mísseis e foguetes.
“Não haverá conversas”
Perguntado sobre um possível cessar-fogo, Sidney Shapiro disse que “manter o Hamas vivo é manter o cidadão israelense em constante perigo”, por isso, dificilmente o governo de Israel realizará negociações com o grupo extremista.
“O israelense, principalmente do sul, não aguenta mais”, disse Shapiro se referindo aos ataques realizados pelo Hamas. O médico acredita ainda que o fim do grupo pode resultar na chamada Solução de 2 Estados, projeto que estabelece a criação e coexistência de Israel e Palestina.
“Nenhum israelense é contra os 2 Estados. A grande diferença é que os 2 Estados estejam pacificamente coordenados e que procurem relações de melhora de serviço, melhora social [e busquem] a construção não a destruição”, afirmou.
De maneira semelhante, Alessandro Strauss avalia que Israel não retrocederá no conflito. Segundo o administrador de empresas, um cessar-fogo significaria “uma premiação para que o Hamas basicamente fique com a mesma estrutura e volte atacar daqui a um tempo”.
“O problema precisa ser resolvido. Israel não tem absolutamente nada contra o povo palestino. […] Israel não tem nenhum interesse que o povo palestino sofra”, afirmou.
Entenda a guerra no Oriente Médio:
- o Hamas atacou Israel em 7 de outubro e reivindicou a autoria da ação;
- Benjamin Netanyahu declarou guerra ao Hamas e falou em destruir o grupo
- Israel respondeu com bombardeios Faixa de Gaza e um cerco à região;
- o Hamas ameaça matar reféns em retaliação à resposta militar israelense;
- depois de privar Gaza de água e alimentos, Israel prepara uma invasão por terra, água e mar;
- o conflito já deixou 4.070 mortos (1.400 israelenses e 2.670 palestinos);
- EUA e países europeus pediram que outros países fiquem de fora da guerra;
- Irã disse não ter relação com os ataques;
- Lula chamou os ataques de “terrorismo”, mas relativizou episódio;
- governo já repatriou 915 brasileiros na operação Voltando em Paz;
- 3 brasileiros morreram: Ranani Glazer, Bruna Valeanu e Karla Mendes.
- ANÁLISE – Conflito é entre Irã e Israel e potencial de escalada é incerto;
- OPINIÃO – Relação Hamas-Irã é obstáculo para a paz, escreve Claudio Lottenberg;
- ENTENDA – saiba o que é o Hamas e o histórico do conflito com Israel;
- VÍDEOS – veja imagens da guerra na playlist especial do Poder360 no YouTube.
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Leia mais sobre o conflito:
- Sirenes, bunkers e mísseis: brasileiros relatam o dia em Israel;
- Brasileiro mostra escassez de recursos no sul de Gaza;
- Entenda a evolução de territórios palestinos e israelenses;
- 7º voo para repatriar brasileiros decola do Rio nesta 2ª;
- Israel vai retirar moradores da fronteira com o Líbano.