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O ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto voltou à mira do governo e de aliados no Congresso na última semana. Na esteira do caso do Banco Master –que acumula um rombo estimado em até R$ 12 bilhões– articulou-se um movimento para associar seu nome à gênese do escândalo.
Campos Neto mantém forte trânsito no universo das fintechs. Hoje é vice-presidente do Nubank, maior empresa do setor no país. Grandes bancos reclamam que as regras para essas instituições são menos rígidas do que as impostas ao sistema bancário tradicional. Além disso, ele é próximo ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome cotado pela direita para a disputa presidencial de 2026.
Parte das manobras em curso busca simultaneamente atingir o universo das fintechs –que o governo tenta vincular ao financiamento do crime organizado– e desgastar Campos Neto em um momento em que ele se firma como um dos principais ativos da direita para 2026.
Banco Master
O escândalo do banco Master é o gatilho. Depois de o banco ser liquidado, houve acusações de que Campos Neto teria sido leniente no período em que comandou o Banco Central.
Em 14 de novembro de 2025, o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, fez críticas indiretas ao ex-chefe do BC ao elogiar Gabriel Galípolo, atual comandante da instituição. Disse que o Banco Central “elevou a régua da dignidade institucional” e que essa régua “não pode baixar, só pode aumentar”.
A fala foi interpretada como recado direto no contexto do Banco Master.
No dia seguinte (15.nov), na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que Campos Neto “pagou R$ 300 mil para se livrar das responsabilidades de um esquema de fraude”, vinculando a acusação ao caso Master.
A conexão, porém, ignora o contexto da multa. O valor se refere a uma investigação do Banco Central sobre operações de câmbio do Santander de 2015 a 2017. O banco firmou um acordo de R$ 19,4 milhões para encerrar o processo.
Calheiros é autor de um projeto que amplia a taxação de fintechs. O relator é Eduardo Braga (MDB-AM) –também aliado do governo. Com dificuldade para fazer avançar o nome de Jorge Messias ao STF (Supremo Tribunal Federal), o projeto deve ficar para 2026.
O texto eleva a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) do setor dos atuais 9% para 12% em 2026 e 15% em 2028. As maiores fintechs, hoje tributadas em 15%, passariam a 17,5% em 2026 e 20% em 2028. A proposta é apresentada por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, como peça central de sua “justiça tributária” –e, na prática, reforça a alta de impostos para ampliar a arrecadação, principal mote da atual gestão.
Interesses
Há uma série de interesses em disputa:
- campo governista – desgastar Campos Neto, associando-o indiretamente a um setor que o Planalto quer rotular como próximo ao crime organizado, é visto como forma de atingir a candidatura da direita em 2026;
- bancos tradicionais – pressionam por mudanças no FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Querem reduzir a cobertura para investidores de fundos que quebrem e impor mais rigor à entrada de bancos médios no mercado, numa tentativa de conter o avanço das alternativas digitais que vêm atraindo clientes das instituições convencionais;
- Fernando Haddad – quer ampliar a arrecadação.
Nos últimos dias, o Poder360 conversou com operadores do mercado, advogados e políticos governistas e de oposição.
Desse grupo, uma parte considera que Campos Neto ainda deve explicações sobre o caso Master –não tratam o episódio como página virada. Outra parte, porém, vê avanço de uma atuação mais politizada do governo, com decisões judiciais e operações da Polícia Federal direcionadas a setores e figuras críticas ao Planalto.
