O banco norte-americano Goldman Sachs (NYSE:GS) alertou sobre os “custos e desvantagens” que a dolarização pode causar na Argentina. As informações são do Clarín.
O processo, que se refere a eliminação do peso argentino e a adoção do dólar como a única moeda, faz parte das propostas econômicas de Javier Milei, candidato à Presidência e vencedor das primárias, para solucionar a alta inflação no país sul-americano.
As análises foram publicadas em um relatório de 19 páginas chamado “Argentina: a dolarização é uma oferta que não pode ser rejeitada?”.
No documento, o diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, e o economista do banco Sergio Armella afirmam que a dolarização exige uma política macroeconômica “sólida” e uma “política fiscal disciplinada” para poder ser adotada. Eles avaliam que a Argentina não tem condições de amortecer as consequências do processo.
Segundo os especialistas, a medida “tem custos e limita o conjunto de ferramentas políticas”. Dizem ainda que “do ponto de vista técnico, a dolarização também não é um passo fácil”.
“Preservá-la e tirar proveito dela a longo prazo é ainda mais desafiador. A dolarização não é estabilização. A consolidação fiscal é essencial, quer a dolarização seja adotada, quer não”, analisam.
Eis as desvantagens apresentadas no relatório:
- perda de receitas decorrentes da emissão da moeda nacional;
- perda de controle sobre a oferta monetária;
- limitação da capacidade do Banco Central de atuar como credor de última instância para o Tesouro;
- perda da capacidade de utilizar a política monetária e cambial para responder a choques por meio da taxa de câmbio e da política de taxa de juros.
Os analistas afirmam ainda que os benefícios da dolarização tendem a ser de curto prazo. “Mas alertamos que um rápido avanço da desinflação, embora certamente possível, não é garantido”, diz o documento.
O texto também apresenta outras ações para melhorar a economia argentina e garantir o seu crescimento de forma sustentável. São elas:
- “ajuste fiscal estrutural rápido e tangível”, além de um Banco Central independente que deixe de financiar o Tesouro;
- liberalização financeira, ou seja, eliminação de múltiplas taxas de câmbio e controles de capitais;
- implementação de reformas estruturais que conduzam a uma economia “mais aberta, produtiva e flexível”.
Segundo Ramos e Armella, as medidas podem “ser suficientes para colocar a economia numa trajetória sustentável sem a necessidade de adotar o passo drástico da dolarização”.
CRÍTICAS DE ECONOMISTAS
Em 10 de setembro, um grupo formado por mais de 170 economistas divulgou um documento (íntegra, 51 KB, em espanhol) criticando a proposta da Milei. O texto cita a falta de dólares na Argentina como um obstáculo “intransponível” para colocar em prática o plano de Milei.
Também indica que um regime de dolarização é inadequado para uma economia complexa e pouco correlacionada com a dos Estados Unidos, como a da Argentina. Os especialistas dizem que a medida aumentaria ainda mais a dívida pública do país e provocaria “um surto (hiper) inflacionário”.
Em entrevista ao Poder360, realizada em 17 de agosto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ser de “difícil execução” o plano para dolarizar a economia da Argentina.
Segundo o economista, é preciso muita credibilidade dos investidores para que não haja solavancos na economia argentina na migração para o dólar. Ele afirmou também que, para fazer isso, “é necessário ter dólares”.
Campos Neto disse ainda que a desvalorização da moeda argentina pode “acentuar a pobreza” no país. Essa declaração foi dada em entrevista à revista Veja publicada em 25 de agosto.
QUEM É JAVIER MILEI
Javier Gerardo Milei tem 52 anos. É formado em economia. Ele está à direita no espectro político ideológico.
O candidato concorre à Casa Rosada pela coalizão “La Libertad Avanza” (em português, A Liberdade Avança). Milei se autodefine como “anarcocapitalista” e “libertário” –é contra a interferência do Estado na sociedade e a favor do sistema de livre mercado.
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