Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciaram neste sábado, 22, a desocupação de uma área de pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), invadida no último domingo, 16. De acordo com a Polícia Militar, os sem terra desmontam os barracos instalados na propriedade pública e deslocam-se para uma área cedida para o acampamento provisório das 600 famílias envolvidas na ocupação, próxima à BR-428. A PM apenas acompanha a desocupação.
A saída dos invasores havia sido determinada na quarta-feira, 19, pela Justiça de Petrolina. No dia seguinte, um oficial da justiça realizou a intimação das lideranças do movimento para a desocupação em um prazo de 48 horas. A Embrapa confirmou que a saída dos sem-terra foi iniciada "de forma tranquila" e tinha a expectativa de que a retirada total acontecesse até o final da noite deste sábado.
Já o MST disse, através da assessoria, que o governo federal teria se comprometido a atender as reivindicações do movimento, incluindo a compra de propriedades entre os municípios de Petrolina e Lagoa Grande para o assentamento das famílias. A reportagem entrou em contato com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e aguarda retorno.
A invasão do centro de pesquisas da Embrapa Semiárido causou grande repercussão por se tratar de área pública, produtiva e destinada a melhoramento de técnicas agrícolas que beneficiam especialmente os pequenos produtores da região. Conforme a Embrapa, a unidade desenvolve experimentos e multiplicação de material genético básico de cultivares (sementes e mudas) adaptados para cultivo em áreas com baixa incidência de chuvas, como o Nordeste.
A ação do MST atingiu ainda áreas de preservação da caatinga, comprometendo a vida de animais ameaçados de extinção, além de pesquisas para conservação ambiental e de uso sustentável do bioma.
No dia seguinte à invasão da Embrapa, integrantes do movimento invadiram duas fazendas de cultivo de eucalipto em Aracruz, no norte do Espírito Santo. As ações fizeram parte do chamado "Abril Vermelho", mobilização nacional do movimento que relembra a morte de 19 sem terra pela Polícia Militar, em abril de 1996, em Eldorado dos Carajás, no sudeste do Pará. Durante a jornada, chegou a dez as propriedades rurais invadidas, além da ocupação de ao menos 12 prédios públicos.
A invasão de terras produtivas pelo MST, especialmente a área de pesquisas da Embrapa, gerou fortes reações de setores do agronegócio e causaram reações contraditórias do governo. Enquanto as ações eram veementemente repelidas pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, lideranças do MST foram recebidas e tiveram suas demandas acolhidas pelos ministros Paulo Teixeira, de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Fernando Haddad, da Fazenda.
Nomes simpáticos ao movimento assumiram a maioria das 19 superintendências regionais do Incra que tiveram troca de comando durante o governo Lula. Já o ministro da Fazenda prometeu se empenhar para aumentar as verbas destinadas à arrecadação de terras e acelerar a reforma agrária, como pediu o MST.
Em nota, o movimento informou que, após os compromissos assumidos pelo governo de atender as demandas dos trabalhadores do campo, as áreas da Suzano (BVMF:SUZB3) e da Embrapa Semiárido estão sendo desocupadas, obedecendo os prazos negociados com o estado. No caso da Suzano, a desocupação vai até o dia 27. "As famílias que realizaram as ocupações não danificaram nenhuma estrutura do órgão e nenhum animal foi ameaçado", disse o MST.
Ministros do governo, no entanto, intensificaram o discurso contra a nova onda de invasões promovida pelo MST em áreas produtivas e na Embrapa. Segundo Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais, o grupo tem outras formas de ação para obter resultados.
A percepção do governo é de que as invasões, que visam pressionar pela aceleração do programa de reforma agrária, podem acabar tendo o efeito contrário, pois tendem a atrasar o cronograma em desenvolvimento pelo governo Lula. A reforma agrária, assim como o incentivo à agricultura familiar, são bandeiras de campanha do petista.