Diante do momento de incerteza fiscal e instabilidade política que o Brasil atravessa, a gestora 3R Investimentos se mantém firme em seus princípios, apostando em análise fundamentalista, visão de longo prazo e foco na relação entre risco e retorno em seu processo de seleção de ativos, de olho em empresas como International Meal Company (SA:MEAL3), CVC (CVCB3 (SA:CVCB3)) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3 (SA:PCAR3)).
Em entrevista ao Mercado News, Tomas Awad, CIO e sócio-fundador da 3R Investimentos, falou sobre a importância da cautela e do ceticismo na análise de empresas, além de compartilhar um pouco da visão “cautelosa” da casa para o cenário macroeconômico brasileiro.
“Temos uma recuperação de renda lenta e difícil, juros subindo, crise energética, que nós citamos em uma carta nossa, e que agora começou a entrar no radar dos mercados. […] Nós já vínhamos pensando que existia a necessidade de precificar isso de alguma maneira, tomando menos risco, usando uma taxa de desconto maior, é preciso refletir isso de alguma maneira.”
Cenário desafiador
Sobre a crise hídrica, Awad destaca que os últimos 2 meses foram piores do que o esperado, tendo sido observado um aumento da demanda por energia elétrica, na esteira da reabertura econômica, ao mesmo tempo em que o nível dos reservatórios está caindo mais rápido. “O governo não fará racionamento de energia, mas a energia deve começar a cair. E nós não sabemos como o sistema vai reagir, como a economia vai reagir, como as empresas irão reagir.”
Além disso, o CIO da gestora avalia que o País se encontra em uma situação fiscal delicada, e acredita que as eleições de 2022 devem agravar esse quadro. Para Awad, o grau de endividamento da União é preocupante: “todo mundo comemorou que a dívida bruta não bateu 95% do PIB, mas está em 85%”. Além disso, o custo da dívida pública deve subir significativamente, já que a curva de juros subiu muito nos últimos meses, tornando o pagamento dos vencimentos e a rolagem da dívida mais custosos para a União.
Diante dos desafios que o Brasil tem pela frente, Tomas Awad acredita que é preciso analisar o mercado com cautela, observando as probabilidades e precificando os riscos existentes.
Menos pessoas entrando na Bolsa
Com a alta da taxa Selic, a renda fixa volta a ser atrativa, diminuindo o apetite dos investidores brasileiros por ativos de renda variável. Awad avalia que o novo cenário deve desacelerar o crescimento do número de CPFs na Bolsa, já que o período durante o qual a taxa de juros se manteve em 2% ao ano induziu investidores a tomarem “muitas decisões de investimento ruins”, acreditando que a Selic continuaria baixa por muito tempo.
“O fluxo de investimentos para fundos de ações está negativo neste mês [setembro], mas ainda é muito positivo no ano, e não sei quão negativo esse fluxo deve ser. Não estou prevendo aqui uma tragédia, mas acho que deve ocorrer uma realocação de portfólio, o que é natural, faz parte, e é saudável também”, complementa.
Apostas da 3R Investimentos
Se tratando das empresas nas quais a 3R Investimentos enxerga um bom potencial de retorno, Tomas Awad citou 3 exemplos: a International Meal Company (MEAL3), do setor de varejo alimentício, a empresa de turismo CVC (CVCB3), e a rede de supermercados Pão de Açúcar (PCAR3).
Awad diz que a International Meal Company, ou IMC, dona de marcas como Frango Assado, Pizza Hut e KFC no Brasil, entrou no radar da 3R nos últimos meses, e agora a casa está montando uma posição na empresa. “É uma empresa bem barata, em termos de valuation, negocia em múltiplos de cerca de metade do Burguer King Brasil (BKBR3 (SA:BKBR3))”. Apesar de se tratar de uma empresa que está passando por um processo de reestruturação, o CIO destaca que a dívida da companhia é pequena, e acredita que a IMC deva se beneficiar da reabertura econômica.
Também de olho na diminuição das restrições de circulação adotadas para conter a disseminação da Covid-19, a 3R aposta na CVC, que passou recentemente por mudanças na gestão e sofreu trocas de acionistas importantes, com a saída do cofundador da empresa Guilherme Paulus e a consolidação dos fundos de investimento Opportunity e o Pátria como acionistas de referência. “É uma empresa dominante no setor, que irá se beneficiar da reabertura. Acho que o câmbio no patamar atual ajuda bastante, porque vai haver muito mais turismo local do que viagens para fora, e a vantagem competitiva da CVC no turismo local é maior ainda.”
Por fim, o GPA é uma empresa que estava barata na visão de Awad após a cisão com o Assaí. “Era um papel que negociava no ano passado R$ 60,00 R$ 70,00, e na hora que veio a cisão, você tinha o Assaí negociando a R$ 80,00, e a PCAR3 saiu a cerca de R$ 13,00 a R$ 15,00. Na soma já saiu algo próximo de R$ 90,00, e nós tomamos a decisão no momento de zerar a posição em Assaí, apesar de ser a operação que mais cresce hoje em dia.”