Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – As ações das companhias do setor de frigoríficos apresentavam variações mistas na manhã desta quinta-feira, 23, diante do anúncio da ocorrência de um caso de mal da vaca louca no estado do Pará, resultando na suspensão das exportações de carne bovina brasileira à China. Alguns papéis se recuperam após o impacto no pregão de ontem, com fortes baixas.
Às 11h33 (de Brasília) as ações da Minerva (BVMF:BEEF3) apresentavam alta de 1,49%, a R$11,57, enquanto as da JBS (BVMF:JBSS3) subiam 3,07%, a R$18,46, as da Marfrig (BVMF:MRFG3) tinham queda de 1,28%, a R$6,19 e as da BRF (BVMF:BRFS3) caíam 0,47%, a R$6,37.
Ontem, as ações da Minerva fecharam o pregão em baixa de 7,92%. As da JBS tiveram queda de 4,33%, as da Marfrig recuaram 4,71% e as da BRF caíram 6,71%.
As ações que podem ser mais afetadas pelo embargo ao mercado chinês são aquelas que possuem grande parcela de exportação para a China, principalmente com origem do Brasil e poucas possibilidades de mudanças nas operações, como aponta Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.
“Minerva exporta bastante para a China, mas possui outros mercados habilitados. Ela pode aumentar sua exportação da Argentina, Colômbia e Paraguai. Vemos impacto relevante, mas nada muito absurdo. O que preocupa mesmo é a perspectiva futura, pois pode haver embargo de outros mercados”.
Flavio Conde, analista da Levante, acredita que a Minerva deve ser a empresa mais impactada, mas a companhia já anunciou que deve mudar as operações para outras unidades internacionais para viabilizar as exportações. “Para JBS e Marfrig, o impacto é bem pequeno, eles exportam pouco do Brasil para China, mas sim via Estados Unidos”.
Em relação à expectativa de que a situação seja resolvida, o analista pondera que o setor já amargava um momento difícil para as margens. “É razoavelmente rápido, mas pode ser muito negativo para as ações, porque o setor já estava pressionando diante de maior oferta de boi nos Estados Unidos, diminuindo margem de Marfrig e JBS. A Minerva era, até então, quem estava se salvando. Então toda essa situação é muito ruim para um setor que já não estava bem. Não temos nenhuma dessas ações em carteira e não estávamos recomendando essas empresas. Agora, mais ainda”, completa Conde.
Daniel Amaro, Head de Alocação da InvestSmart XP (BVMF:XPBR31), detalha que a Marfrig é hoje a segunda maior produtora de carne bovina do mundo com as suas plantas sendo localizadas totalmente na América do Sul e América do Norte. “Hoje, aproximadamente 90% do seu portfólio é relacionado a bovinos e o restante a ovinos”, explica. Em relação à JBS, a maior produtora de proteínas do mundo possui um portfólio bem mais diversificado com aves, suínos e bovinos. Como maior parte da produção é de bovinos, mas na América do Norte, os riscos são mitigados. Em relação à Minerva, a empresa possui plantas em outros países que podem continuar seguindo com as exportações para a China, reforça o especialista.
Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research, acredita que as ações da Minerva e Marfrig podem sofrer mais. “Elas possuem uma exposição bem maior em proteína bovina do que a JBS, que tem também, mas possui portfólio mais diversificado, assim como BRF”. Entre as duas, a Minerva, por ter exposição maior em China, acaba sendo mais impactada, mas conta com operações pela América Latina, trazendo maior flexibilidade. “De qualquer forma, ainda é muito cedo. Precisamos saber quanto tempo as investigações vão durar. Já tivemos experiências de vários dias de suspensão e outras com prazo bem curto”.
Quando a mesma situação ocorreu em 2021, a suspensão durou em torno de três meses, lembra Fernando Bresciani, analista de investimento do Andbank. “O Brasil é um dos maiores exportadores do mundo e, fora do mercado, pressiona os preços lá fora”. O analista concorda que a ação da Minerva deve ser a mais impactada, mesmo diante das plantas externas.
‘Vaca louca’
O Ministério da Agricultura (Mapa) suspendeu as exportações de carne bovina para a China a partir desta quinta-feira, 23. De acordo com a consultoria especializada em boi gordo HN Agro, com a provável confirmação do caso atípico no Pará, as exportações devem seguir suspensas para novos lotes e a tendência é de que a Organização Mundial de Saúde Animal encerre o caso em alguns dias, sem alterar o status brasileiro de risco insignificante para BSE, o mal da vaca louca.
Hyberville Neto, consultor da HN Agro, explica que um caso típico de vaca louca é originário da cadeia alimentar de ingestão, enquanto a atípica é apenas um caso esporádico que só acontece naquele animal, visto que a doença é causada pelo acúmulo de uma proteína defeituosa no sistema nervoso central.
“Pelas características da nossa pecuária, esse animal era um animal criado a pasto, era um animal que não tinha alimentação produtos de origem animal, era um animal de mais idade, então tudo isso ele vai fechando na direção de um diagnóstico de mais um caso de vaca louca que acontece espontaneamente em qualquer rebanho do mundo”, avalia o consultor.