AGU dá 72 horas para Meta explicar mudança em política de moderação de conteúdo

Publicado 10.01.2025, 14:58
Atualizado 10.01.2025, 16:50
© Reuters. Logo da Meta em Bruxelasn06/12/2022 REUTERS/Yves Herman
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Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - A Advocacia-Geral da União enviou nesta sexta-feira um pedido para que a Meta explique em até 72 horas a mudança na política de moderação de conteúdo em suas redes sociais e afirmou que as alterações podem violar legislação brasileira que rege as redes sociais.

O prazo para que a empresa responda à notificação do governo se encerra na segunda-feira à tarde.

A AGU cobra da Meta informações sobre as “providências que vem sendo adotadas a respeito do dever de cuidado com relação à coibição de violência de gênero, proteção de crianças e adolescentes, prevenção contra racismo, homofobia, prevenção contra suicídio, óbices e discursos de ódio e outros temas de direito fundamental”.

O órgão também defende o esclarecimento sobre se haverá divulgação de relatório de transparência sobre a checagem de desinformação realizada por meio do sistema de "notas da comunidade", método já utilizado pela rede social X.

Mais cedo, o advogado-geral da União, Jorge Messias, afirmou chamou a empresa de "biruta de aeroporto", em entrevista após reunião convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o assunto.

"Queria expressar a enorme preocupação do governo brasileiro com a política adotada pela empresa Meta, que parece uma biruta de aeroporto, o tempo todo muda de posição ao sabor dos ventos... a sociedade brasileira não ficará à mercê desse tipo de política", disse Messias a repórteres.

"A nossa preocupação neste momento é que a empresa venha a público - já que não foi transparente em momento algum qual política vai adotar", ressaltou.

Messias afirmou que o governo de forma alguma vai permitir que as redes se transformem em um ambiente de "carnificina e barbárie digital" e acrescentou que, dependendo da resposta da empresa, não descartou recorrer ao Judiciário. Ele não detalhou quais medidas poderiam ser adotadas.

Procurada, a Meta disse que não irá comentar a requisição da AGU.

Na terça-feira, o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou o fim do programa de checagem de fatos nas redes sociais da empresa - Facebook (NASDAQ:META), Instagram e Threads - nos Estados Unidos como parte de uma mudança em sua política de moderação de conteúdo após a eleição de Donald Trump como próximo presidente dos EUA. A empresa passará a adotar um recurso chamado notas da comunidade, semelhante ao que a rede social de Elon Musk, X, já promove.

A Reuters é parceira da Meta no programa de checagem de fatos. A agência de notícias não comentou sobre a decisão da empresa de redes sociais de encerrar o programa nos Estados Unidos.

A iniciativa da AGU de notificar a Meta ocorre depois que o Ministério Público Federal de São Paulo apresentou na quarta-feira um questionamento aos responsáveis pela empresa no Brasil para saber se haverá mudanças também no país. No caso do MPF, a empresa terá até 30 dias para responder.

LULA E MACRON

Além da iniciativa da AGU, Lula recebeu telefonema também nesta sexta-feira do presidente da França, Emmanuel Macron, em que ambos conversaram sobre as mudanças na Meta, entre outros temas.

© Reuters. Logo da Meta em Bruxelas
06/12/2022 REUTERS/Yves Herman

"Eles concordaram que liberdade de expressão não significa liberdade de espalhar mentiras, preconceitos e ofensas. Ambos consideraram positivo que Brasil e Europa sigam trabalhando juntos para impedir que a disseminação de 'fake news' coloque em risco a soberania dos países, a democracia e os direitos fundamentais de seus cidadãos", destacou o Palácio do Planalto em comunicado.

A conversa entre os dois líderes, que durou cerca de 30 minutos, aconteceu após reunião convocada por Lula com ministros para debater a questão da Meta. Na véspera, Lula criticou o anúncio da empresa e disse que as mudanças não podem "ferir a cidadania de uma nação".

"Eu acho que é extremamente grave as pessoas quererem que a comunicação digital não tenha a mesma responsabilidade de um cara que cometa um crime na imprensa escrita. É como se um cidadão pudesse ser punido porque faz uma coisa na vida real e não pudesse ser punido quando faz a mesma coisa nas redes", disse Lula a jornalistas no Palácio do Planalto, na ocasião.

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