Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Investidores estrangeiros têm sido seletivos e preferido operações de mercado primário para comprar ações brasileiras, a fim de evitar a volatilidade do pregão ditada pelo exterior e aproveitar oportunidades principalmente de empresas com prognóstico de crescimento forte e ganho de eficiência.
Números sobre as negociações dos estrangeiros na bolsa paulista mostram um significativo saldo negativo de 20 bilhões de reais em 2019 no mercado secundário, maior saída líquida em 23 anos, sendo que, apenas em agosto, as saídas superam as entradas em 9,6 bilhões de reais.
Mas quando se consideram as ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) e ofertas subsequentes (follow on), o saldo em 2019 fica positivo em 4,4 bilhões de reais.
De acordo com o diretor da área comercial da mesa de renda variável para a América Latina do Goldman Sachs, Juliano Arruda, a disposição do estrangeiro de investir no Brasil continua, mas existe uma seletividade.
"Há uma procura clara por histórias de crescimento alto, empresas que estão indo para o mundo digital ou que tenham ganhos de eficiência percebidos muito claros", afirmou.
Desde o começo do ano, 19 operações, entre IPOs e follow on, movimentaram 53,47 bilhões de reais, com a participação dos estrangeiros totalizando 25,57 bilhões de reais, conforme a B3.
Para Magali Bim, da gestora da Brasil Plural (SA:BPFF11), em entrevista recente, os estrangeiros não estão propensos a disputar preço com investidores locais, mas estão entrando em ofertas de ações maiores, em que conseguem precificação.
Entre as operações deste ano, a venda de fatia da Petrobras (SA:PETR4) na BR Distribuidora (SA:BRDT3) movimentou 9,6 bilhões de reais, com a fatia dos estrangeiros alcançando 45%. Na oferta da Linx (SA:LINX3), os estrangeiros responderam por 83%.
"Os recursos podem estar 'saindo por uma porta (mercado secundário) e entrando por outra (mercado primário)'", avaliam os analistas da Planner, em relatórios sobre os números.
Apenas em agosto, o Ibovespa já oscilou da máxima de 104.848,18 pontos à mínima de 98.002,03 pontos, considerando dados durante o pregão, diante de riscos de desaceleração da economia global e de discussões sobre atuação de bancos centrais.
De acordo com gestores ouvidos pela Reuters, são questões externas, como o desaquecimento de importantes economias, que estão ditando a saída de estrangeiros da bolsa.
"É um movimento de saída de mercados emergentes como um todo, não especificamente de Brasil", afirmou o sócio de uma gestora em São Paulo.
Ainda assim, destacou o gestor de uma empresa ligada a previdência complementar com sede no Rio de Janeiro, não há como não se decepcionar com o saldo de capital externo negativo negociado no segmento Bovespa.
"Este ano está absurdamente decepcionante, principalmente com muitos na expectativa de que o estrangeiro entraria após a aprovação da reforma da Previdência, o que até o momento não se confirmou", disse.
O texto que muda as regras de acesso à aposentadoria foi aprovado na Câmara dos Deputados no começo do mês e começou a tramitar no Senado.