Aprosoja e governo brasileiro criticam Danone por fala sobre boicote à soja do Brasil

Publicado 29.10.2024, 10:07
© Reuters. Cultivo de soja no Rio Grande do Suln3/04/2024nREUTERS/Diego Vara
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Atualizada em 31/10/2024 às 09:33 para inserir a posição da Danone do Brasil

SÃO PAULO (Reuters) - A Aprosoja Brasil, entidade que representa agricultores do maior produtor e exportador global de soja, afirmou nesta terça-feira que há "motivos de sobra" para produtores rurais brasileiros boicotarem a Danone após um alto executivo da companhia francesa dizer que a multinacional não mais compra a oleaginosa no país.

Já o Ministério da Agricultura do Brasil afirmou em nota que o país exige ser tratado com "a mesma justiça e equilíbrio que pautam as relações comerciais internacionais, devendo ser rechaçadas posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias, com forte presença de atividade também no mercado brasileiro".

A gigante francesa de laticínios Danone parou de comprar soja do Brasil e agora compra de países da Ásia, disse na semana passada seu diretor financeiro, Jurgen Esser, à Reuters, enquanto a União Europeia prepara uma lei que exige que as empresas provem que não estão comprando commodities de áreas desmatadas.

Segundo a Aprosoja Brasil, a posição demonstra desconhecimento do processo produtivo no Brasil e "um ato discriminatório contra o país e sua soberania".

"Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando na verdade são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil", afirmou a Aprosoja.

Para a entidade, o "boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor".

O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava programado para entrar em vigor em 30 de dezembro de 2024, embora a Comissão da UE tenha proposto um adiamento de 12 meses.

Segundo a associação, "a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil".

"Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades", disse a entidade, citando a legislação brasileira, que determina que o produtor rural precisa preservar de 20% a 80% de Reserva Legal, dependendo do bioma, e mais as Áreas de Preservação Permanentes (beira de rio, topo de morro e entorno de nascentes).

"Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada", disse a Aprosoja Brasil.

Já o ministério afirmou que o Brasil conta com uma das legislações ambientais "mais rigorosas do mundo", que "tem permitido ao país combater o desmatamento ilegal com políticas públicas que abrangem o Cerrado, a Amazônia e outras regiões sensíveis, assegurando que a produção agrícola seja feita de maneira responsável e sustentável".

Por outro lado, a unidade brasileira da Danone afirmou em nota nesta terça-feira que "a Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais". A empresa, porém, não explicou nesta terça-feira a diferença de seu posicionamento no Brasil versus o comentário de Esser na semana passada quando questionada pela Reuters no país.

A sede da Danone na França não retornou pedidos de comentários após a divulgação do comunicado da Aprosoja criticando a fala do executivo.

© Reuters. Cultivo de soja no Rio Grande do Sul
3/04/2024
REUTERS/Diego Vara

A Aprosoja afirmou ainda que "este ato de discriminação contra a produção de grãos do Brasil é passível de reclamação por parte do governo brasileiro nas instâncias que regulam o comércio mundial", como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Enquanto os principais comerciantes de grãos seguem acordos como a Moratória da Soja, que proíbe a compra de soja de terras recém-desmatadas na floresta amazônica, o Cerrado brasileiro vê o avanço do cultivo, em momento em que o desmatamento nessa região tem crescido.

Após a divulgação da matéria, a Danone do Brasil entrou em contato com o Investing.com com a declaração oficial de Silvia Dávila, membro do Comitê Executivo Global e presidente regional da América Latina na Danone. Segue abaixo a nota completa:

Lamentamos as informações incorretas que circulam sobrea Danone ea origem da soja brasileira. Confirmamos que a Danone continua comprando soja brasileira, em conformidade com as regulamentaçóes locais e internacionais.

Reconhecemos o notóvel compromisso do governo brasileiro em preservar as florestas locais e seus sólidos programas dedicados õ proteçõo da floresta amazônica e ao avanço da agricultura sustentóvel de soja. Também reconhecemos as associações de classe e os agricultores brasileiros que têm se dedicado incansavelmente õ sustentabilidade e õ inovaçõo no campo.

A Danone tem uma forte presença no Brasil hó mais de 50 anos e investe anualmente em ações que priorizam o apoio e o desenvolvimento de grandes e pequenos produtores locais, incentivando próticas mais sustentóveis em todaa nossa cadeia de suprimentos.

A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de suprimentos de raçõo animal da Danone para os produtores de leite no Brasil, e continuaa ser utilizada, coma maior parte desse volume sendo disponibilizadaa eles por meio da Central de Compras da Danone, incluindo processos que garantem sua origem de óreas nõo desmatadas.

Em outras regiões, como na UE, onde produtores de leite obtêm sua raçõo diretamente de fornecedores de sua escolha,a soja brasileira é um insumo importante paraa indústria. A Danone trabalha ativamente com os produtores de leite para garantir quea soja seja proveniente de fontes sustentóveis e verificadas como livres de desmatamento, independentemente da origem geogrófica. Também incentivamos ativamente os produtores de leitea comprarem raçõo apenas de comerciantes que respeitem seus compromissos ou possuam certificações credíveis.

Mais uma vez, reafirmamos com orgulho o compromisso inabalóvel da Danone com todos os nossos stakeholders no Brasil, incluindo fornecedores, agricultores, governo, consumidores, clientes e comunidades.

 

(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Richa Naidu)

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