Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em missão do governo brasileiro à China nesta semana afetou algumas negociações da indústria de carnes para obter mais habilitações de frigoríficos, gerando maiores expectativas para novas autorizações em breve, na hipótese do governante realizar finalmente sua viagem ao país asiático em abril, disseram nesta quarta-feira fontes com conhecimento do assunto à Reuters.
Além de um maior número de fábricas habilitadas e reabilitadas para exportar aos chineses, havia perspectiva de discussão de mudanças em um protocolo sanitário sobre casos atípicos de "mal da vaca louca", segundo as pessoas, que falaram na condição de anonimato.
Habilitações para frigoríficos do Brasil ainda podem acontecer, mas as chances neste momento são menores devido ao cancelamento de Lula causado por um diagnóstico de pneumonia.
"Nada impede que novas habilitações aconteçam como resultado da missão na China, mas agora não conseguimos precisar quando isso vai acontecer... seria bom que o presidente conseguisse vir em breve, em abril, como está sendo falado", disse uma fonte na condição de anonimato.
O governo brasileiro negocia a remarcação da viagem de Lula à China para os dias 11 a 14 de abril.
Segundo a fonte, a previsão inicial era que estas aberturas de mercado e fechamentos de acordos ocorressem nesta semana, com a presença do presidente na missão.
Ao menos mais quatro plantas frigoríficas estariam prontas para habilitação, faltando apenas o aval dos chineses após questionamentos adicionais terem sido respondidos nos últimos dias à Administração Geral das Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês).
Inicialmente, eram oito unidades prontas para aprovação, mas apenas quatro do segmento de carne bovina conseguiram a habilitação chinesa anunciada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que encerrou nesta quarta-feira a missão à China.
Houve também a retomada de exportação à China por duas plantas que estavam suspensas, uma de bovino e outra de frango da BRF (BVMF:BRFS3). Entretanto, a companhia ainda busca a reabilitação de suas duas maiores unidades do Brasil, de Lucas do Rio Verde (MT) e Rio Verde (GO), conforme reportagem da Reuters.
Em nota do Ministério da Agricultura, o Fávaro afirmou nesta quarta-feira que, ao todo, o Brasil conta com "mais de 50 plantas frigoríficas cadastradas para serem avaliadas pelo governo chinês".
Sobre o fechamento de acordos, uma das fontes disse que o próprio Fávaro reuniu a comitiva de executivos na China e deixou claro que algumas assinaturas só seriam feitas com Lula, algo que será postergado para quando a viagem for confirmada na agenda do presidente.
"A discussão sobre o protocolo sanitário do autoembargo em casos de vaca louca no Brasil também seria algo com Lula e ficou para depois", disse o interlocutor.
Atualmente, as exportações de carne bovina do Brasil são automaticamente suspensas para a China quando é detectado um caso da doença Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como "mal da vaca louca", mesmo antes que sua natureza seja especificada pelas autoridades sanitárias globais.
Em casos atípicos, como o que foi encontrado no Pará em fevereiro, a doença surge espontaneamente e não há risco para o rebanho e saúde humana. Casos clássicos nunca foram encontrados no Brasil.
O setor de carnes pretendia debater com as autoridades chinesas a mudança neste protocolo entre os países para embargar apenas a exportação da carne proveniente do Estado em que a doença foi detectada.
Alguns executivos presentes na comitiva brasileira já retornaram da missão chinesa no início desta semana e outros têm previsão de retorno para quinta-feira, junto com Fávaro.
Apesar das negociações afetadas pela ausência de Lula, o ministro da Agricultura comemorou os resultados alcançados, com destaque para as habilitações conseguidas para frigoríficos --algo que não ocorria desde 2019--, além do fim da suspensão de exportações de carne bovina que já durava quase 30 dias em função do registro de "mal vaca louca" atípico no Pará, conforme nota do ministério.
(Reportagem de Nayara Figueiredo)