SÃO PAULO (Reuters) - A Azul (BVMF:AZUL4) pretende voltar a crescer após uma captação de 800 milhões de dólares com emissão de títulos de dívida ser a peça final de uma reestruturação financeira da companhia, afirmou o presidente da empresa aérea, John Rodgerson, nesta quinta-feira a jornalistas.
"É a peça final de nossa reestruturação financeira que começou com a pandemia", disse Rodgerson. Ele citou, além do impacto direto da Covid-19 no setor aéreo, a desvalorização cambial e a alta no preço de combustível de aviação como desafios enfrentados pela empresa nos últimos anos.
Nos últimos meses, a Azul negociou reetruturações de pagamentos junto a arrendadores de aeronaves e credores de dívida.
A Azul disse, em fato relevante na véspera, que os recursos da captação no exterior, realizada pela subsidiária Azul Secured Finance LLP, dos Estados Unidos, serão utilizados para pagamentos de certas dívidas existentes e outras obrigações, e também para demais fins corporativos.
Questionado, Rodgerson afirmou nesta quinta-feira que a empresa não está divulgando mais detalhes sobre o uso desses recursos captados. No entanto, ele disse que a ideia é investir para voltar a crescer e citou a retomada de projetos antigos, como um potencial hangar em Minas Gerais.
Com relação à frota, o presidente afirmou que a companhia aérea receberá seis aeronaves E2, da Embraer (BVMF:EMBR3), até o final do ano.
A emissão desta quinta-feira seria inicialmente de 700 milhões de dólares, mas, diante da demanda elevada, a companhia aumentou o montante para 800 milhões de dólares, disse o diretor financeiro, Alex Malfitani. A demanda, no pico, chegou a 2 bilhões de dólares, segundo ele.
Os títulos terão cupom de 11,93% ao ano, pago trimestralmente, enquanto o rendimento para os investidores que segurarem o título até seu vencimento, em 2028, será de 12,25%. Malfitani classificou as taxas como "mais favoráveis" frente às vistas na região recentemente.
Os título serão garantidos pela companhia, pelas subsidiárias e através de recebíveis e certas propriedades intelectuais de empresas controladas como Tudo Azul e Azul Viagens, de acordo com a empresa.
A Azul anunciou mais cedo neste ano um acordo com arrendadores para reestruturação de pagamentos que permitirá, conforme estimativas da empresa, uma redução de 5,4 bilhões de reais nos pagamentos a partir do segundo trimestre deste ano, em troca de um título de dívida e um instrumento conversível em ações. O acordo englobaria mais de 95% do passivo de arrendamento da companhia.
Depois, a Azul anunciou uma oferta de troca de dívida, aceita por mais de 86% dos credores, de modo a, na prática, esticar vencimentos de 2024 e 2026 para 2029 e 2030, em troca de garantias aos títulos e maiores cupons.
Rodgerson disse que a operação com arrendadores já está comercialmente fechada, com os novos valores sendo cumpridos, mas que a documentação será finalizada nos próximos 45 dias. Ele também disse que negociações com um arrendador continuam.
Quanto à troca de dívida, os executivos da Azul afirmaram que a aceitação segue em cerca de 86% e que os credores que não optaram pela operação irão receber normalmente os rendimentos anteriormente acordados.
A ideia, conforme Rodgerson, é que as três operações -- com arrendadores, credores e a captação -- sejam finalizadas quase que conjuntamente, embora tenham sido anunciadas uma de cada vez.
Malfitani ainda disse que a Azul segue no caminho para alcançar suas projeções de alavancagem financeira (dívida líquida sobre o Ebitda) de 3,5 vezes em 2023 e de 3 vezes no ano que vem.
(Por André Romani)